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Resenha - Syngué Sabour: Pedra-de-paciência

quinta-feira, abril 08, 2021

 

Syngué Sabour: Pedra-de-paciência, de Atiq Rahimi, foi publicado em persa, em 2008, e traduzido para o português em 2009. O livro venceu o Prêmio Goncourt 2008 e foi adaptado para o cinema em 2012, dirigido pelo próprio autor do livro.

Título: Syngué Sabour: Pedra-de-paciência

Autor: Atiq Rahimi

Ano: 2009

Nº de páginas: 152

Editora: Estação Liberdade

Avaliação: ★★★★

Sinopse: Depois de Terra e cinzas (2002) e As mil casas do sonho e do terror (2003), a Estação Liberdade lança Syngué Sabour, novo livro do aclamado escritor afegão, que levou de surpresa com esta obra o Prêmio Goncourt 2008. Em persa, syngué significa "pedra" e, sabour, "paciente". Pedra paciente, a pedra- de-paciência. A personagem central desta obra, uma mulher afegã, vela o marido - que vegeta em uma cama com uma bala alojada na cabeça. Os tempos são difíceis, na rua os tanques e as Kalashnikov atiram sem cessar, a guerra civil impera às portas da casa onde a mulher espera por um milagre. Enquanto isso, lentamente a mulher faz jorrarem de dentro de si as recordações há muito escondidas. Passa a narrar ao marido fatos que ele sempre ignorara. Como a syngué sabour da mitologia persa, a pedra negra que recebe dos peregrinos suas dores e lamentos, o homem prostrado ouve sua esposa. Ouve a extraordinária confissão da mulher, que segreda-lhe, de maneira inimaginável num país islâmico, tudo o que mantivera para si, soterrado sob uma espessa camada de tradição. A ideia para a obra surgiu a partir de um episódio em que foi convidado para um evento literário em Cabul por uma amiga, a poeta Nadia Anjuman. Chegando lá, descobriu que a poeta estava morta, por "causas familiares". Investigando, soube que Nadia havia sido espancada até a morte pelo próprio marido, com a conivência da mãe, pois eles discordavam de seu modo de vida. A frase que abre o livro - "Em algum lugar do Afeganistão ou alhures" - já revela a proposta do autor de não particularizar sua obra no âmbito topográfico: é sobre cultura afegã, ou, mais precisamente, sobre a ortodoxia islâmica que o autor se debruça em Syngué sabour. Não por acaso anônimos, seus personagens fazem irromper as tensões de todo um povo, as mazelas de uma região ressentida de conflitos perenes, sem, no entanto, que se abdique da sutileza e do refinamento do detalhe. Estilista da linguagem, cuja economia maneja com precisão, Rahimi conduz o leitor entre o lirismo e a contundência, entre o que é velado e o que se escancara, através dos conflitos políticos, religiosos e morais de um país em escombros. Esta obra, a primeira que ele escreveu diretamente em francês, conquistou o Prêmio Goncourt de 2008 e consolida o autor afegão como um dos grandes nomes da literatura trans-étnica deste início de século XXI. O júri que atribui o Goncourt para Syngué sabour era composto por: Tahar Ben Jelloun, Françoise Chandernargor, Edmonde Charles-Roux, Didier Decoin, Françoise Mallet-Joris, Bernard Pivot, Patrick Rambaud, Robert Sabatier, Jorge Semprun e Michel Tournier. No dia seguinte a seu comunicado de agradecimento pelo prêmio, Rahimi emitiu outro contra a deportação de 50 compatriotas afegãos que seriam embarcados à força de Calais (França), no que teve sucesso, imbuído de nova autoridade como laureado do Goncourt.


Syngué Sabour: Pedra-de-paciência se passa no Afeganistão destruído pela guerra civil. Enquanto o país está enfrentando o caos do lado de fora, acompanhamos a protagonista, uma mulher que está em casa cuidando do marido em coma, devido a um tiro que levou na nuca. No começo, as duas filhas do casal estão em casa, mas conforme a guerra vai se mostrando mais violenta na históría, as filhas vão ficar com a tia de sua mãe. 

Ainda que as coisas estejam feias, a personagem passa 99% da história em casa, mas a narração deixa claro sobre os barulhos de tiros e quando invadem a casa, ou seja, a guerra e a casa são retratadas como cenários principais. O romance é bastante curto, mas o autor trouxe a mitologia de Syngué Sabour, uma história que diz que existe uma pedra da paciência, para a qual você pode contar todos os seus segredos e se livrar de seus tormentos. Contudo, um dia a pedra explodirá de tanto "carregar" o segredo dos outros.

A protagonista decide, então, que seu marido em coma é sua Syngué Sabour, sua pedra da paciência para a qual ela vai contar todos os segredos. A partir dessa decisão dela, nós descobrimos mais sobre sua vida e como é difícil ser uma mulher afegã, como elas são tratadas pelos homens sob o costume conservador e machista da sociedade do oriente médio. Os laços familiares, os pesadelos, as coisas pelas quais as mulheres passam para agradar o marido e realizar seu "papel"... Tudo isso aparece nos segredos da protagonista sem nome.

"'Sabe, essa pedra que a gente coloca na frente de si mesma... diante da qual a gente se lamenta por todas as infelicidades que tem, todos os sofrimentos, todas as dores, todas as misérias... uma pedra à qual a gente confia tudo o que traz encerrado no coração sem ousar revelar aos outros...' Ela ajusta o conta-gotas. 'Você fala com a pedra, fala com ela. E a pedra escuta, absorve como uma esponja as palavras, os segredos, até que um belo dia ela estoura. Estilhaça.'"

Conforme ela vai entregando seus tormentos à sua pedra, o mundo lá fora vai ruindo. A narrativa tem um estilo simples e diferenciado, sem travessões para diálogos, com falas e pensamentos misturados. É uma mistura de fluxo de conciência com aquilo que está realmente sendo falado e posto na realidade. 

O final da história é comovente, como eu já esperava que fosse ser. Recomendo muito a leitura para quem está em busca de ler uma história rápida, mas profunda e reflexiva. Eu particularmente sou apaixonada por histórias que se passam no Afeganistão (tanto que já li e resenhei todos os livros do famoso autor Khaled Hosseini, vou deixar no final da resenha), são sempre histórias que mostram a guerra e nos fazem conhecer e refletir sobre culturas totalmente diferenciadas.


A cidade do sol (Khaled Hosseini)

A memória do mar (Khaled Hosseini)

O caçador de pipas (Khaled Rosseini)

O Silêncio das Montanhas (Khaled Rosseini)


E você, já tinha ouvido falar desse livro ou ficou com vontade de ler? Comenta aí!

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