Resenha - Se eu pudesse viver minha vida novamente

segunda-feira, junho 20, 2022

 


Se eu pudesse viver minha vida novamente, de Rubem Alves, foi publicado em 2004, dez anos antes da morte do autor. Nessa biografia, Rubem Alves desconstrói e constrói muitas visões interessantes sobre a morte.

Título: Se eu pudesse viver minha vida novamente

Autor: Rubem Alves

Ano: 2004

Nº de páginas: 153

Editora: Lido no Kindle

Avaliação: ★★★★★ Favorito

Sinopse: Rubem Alves viaja no tempo e no espaço e lança o olhar sobre os sonhos, sobre as perdas e ganhos, detendo-se nos pequenos detalhes que fazem toda a diferença, recorrendo a memórias ora felizes ora dolorosas, quase sempre com um toque de nostalgia que não é arrependimento, mas sim uma saudade gostosa de algo vivido em plenitude. É assim, com extrema delicadeza, que o autor chega ao coração e à mente do leitor, despertando-o para o agora, acordando um desejo de viver de forma diferente, de aproveitar cada instante, de valorizar cada minuto.


Quem lê os poemas que eu escrevo e posto aqui no blog, talvez já tenha percebido que eu tenho uma grande questão com a crise existencial e com a morte. Afinal, se vamos todos morrer, qual é o sentido disso tudo? Além do mais, por que a morte é tão cruel quando a vida tem tanto para nos oferecer? Bem... Eu tenho uma visão bastante romantizada da vida, mas foi lendo esse livro que fui capaz de entender muito mais sobre o meu ponto de vista e deixar de pensar nisso como uma grande crise.

Rubem Alves tinha 70 anos quando escreveu essa obra. Já mais velho, ele comenta que achou interessante comentar como seria se ele pudesse viver a vida dele novamente e, mais do que isso, o que o moveu todos os dias e lhe fez viver a vida. Como um grande psicanalista e professor, Alves traz para esse livro inúmeras citações de escritores sobre a morte, a vida, a saudade, o sonho, a imaginação, a infância...

Assim como ele, eu também acredito que tudo se amarra, uma vez que vivemos um pouco na realidade e um pouco na nossa própria cabeça. Com essa obra, aprendi que a morte não causa o medo do desconhecido, mas o medo da saudade. Saudade que vamos sentir de quem amamos, saudade que "vamos sentir" da vida na Terra. Também ficou claro que a vida não tem um sentido, apenas deve ser vivida e pronto.

Algo interessante é que, Rubem Alves não usa o clichê e diz "viva o agora, vá lá fora, viva cada momento como se fosse o último". Não, o autor diz que devemos viver como achamos que a vida deve ser vivida se é o que nos agrada, sempre lembrando que a vida é uma grande roleta da sorte e, se algo bom ou ruim acontece, é porque estamos jogando desde que nascemos, não porque Deus quis que coisas ruins ou boas acontecessem com a gente.

Sonho, imaginação e infância também são temas que entram no modo como vemos a vida. Se sentimos saudade da infância, é porque sentimos falta de como era bom que tudo fosse novidade e brincadeira. Aprendi que a vida também é feita de sonhos e tá tudo bem fugir da realidade para sonhar. A imaginação é mais potente que qualquer viagem ao redor do mundo, a partir da leitura, vamos a lugares que avião nenhum pode nos levar. 

Eu simplesmente amei esse livro e recomendo muito para todos! A obra é curta e cheia de ensinamentos e abrir de olhos. Seguem os vários trechos que destaquei:


"O fato é que a celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá."

"Tudo o que escrevo é sempre uma meditação sobre mim mesmo."

"Há a morte, o terror que no escuro nos espreita. Há uma alma que sobrevive à morte e vai para algum lugar. Há um Deus que é o senhor do mundo depois da morte... Meu sentimento foi medo. Rompia-se a felicidade paradisíaca. Será o medo o início da religião? Medo da morte. Medo de abandonar este mundo luminoso!"

"O místico não se encontra no invisível. O místico se encontra no visível."

"Escola é máquina de destruir crianças. Nas escolas as crianças são transformadas em adultos."

“Num homem real se esconde uma criança [...] que deseja brincar”

“Quem assim nos fascinou, para que tivéssemos esse olhar de despedida em tudo o que fazemos?”

"Quando escrevo, estou lutando contra a morte. A morte das coisas que o meu amor ajuntou e que vão se perder quando eu morrer."

"O que a gente acumula é parte da gente – porque somente o amado é acumulado. Como disse, tudo é fácil quando o que se acumula se resume a dinheiro. Quem só acumulou dinheiro é porque só amou dinheiro. A coisa se complica quando o que se ajuntou foram ovelhas. É preciso encontrar alguém que as ame, que tenha alma de pastor, que as chame pelo nome, que as conduza por pastos verdes e fontes de águas frescas, as defenda dos lobos e as acaricie ao fim da tarde."

"(...) a vida é brinquedo que para nada serve, a não ser para a alegria! Entregue-se, sem vergonha e sem sentimentos de culpa, às delícias do ócio. Aprenda a andar sem ter de chegar a lugar algum, simplesmente gozando o mundo que nos cerca! Faça o fantástico turismo gratuito dos livros. Você irá a tempos e lugares aonde avião algum pode chegar;"

"Vamos! A vida é bela. Pare de namorar a morte! Beba a taça até o fim!"

"E, no entanto, é isso que nós somos, sem que tenhamos coragem para dizê-lo: um adeus."

"Acho mesmo é que eles têm medo dos pensamentos que pensariam no tempo da espera. Pela vida inteira se recusaram a conversar com a Morte e se sentiriam enlouquecidos com as perguntas da suprema filósofa."

"a dor da morte não é a dor do medo. É a dor da saudade. Imaginar a ausência das coisas que amamos"

"Ah! A vida é bela! O mundo é belo! É por isso que toda despedida é triste. E é isso que eu sinto: que a morte é uma saudade sem remédio."

"Sonhar é uma forma de viver."

"a alma é uma artista. Artistas não aceitam a realidade."

"A alma é um cenário. Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca, inundada de alegria. Por vezes, ela é como um pôr de sol, triste e nostálgico."

“Há quanto tempo o mar se quebra alisando a areia?”

"“Tudo flui, nada permanece.” “Sou e não sou no que estou sendo” (Cecília). Todo ser é um permanente deixar de ser. A vida acontece morrendo. Como o rio. Como a chama."

"vem o espanto de que a tenhamos escrito. E perguntamos: “Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto? De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu... Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?”"


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