Você, Escritor! - A narração ideal

domingo, março 06, 2016


Creio que a partir de agora entraremos na parte em que ajudamos vocês na prática. Decidi começar com os tipos de narrações e dando algumas dicas (como escritora e leitora) de quando e como é ideal utilizá-las. Vamos lá!



O que é a narrativa?
Para ser uma narrativa, basta que sua criação possua: tempo, espaço, personagens, narrador e enredo. As modalidades da narrativa são as seguintes: 

Romance: É uma narrativa sobre um acontecimento ficcional no qual são representados aspectos da vida pessoal, familiar ou social de uma ou várias personagens. Gira em torno de vários conflitos, sendo um principal e os demais secundários, formando assim o enredo.

Novela: Assim como o romance, a novela comporta vários personagens, sendo que o desenrolar do enredo acontece numa sequência temporal bem marcada. Atualmente, a novela televisiva tem o objetivo de nos entreter, bem como de nos seduzir com o desenrolar dos acontecimentos, pois a maioria foca assuntos relacionados à vida cotidiana.

Conto: É uma narrativa mais curta, densa, com poucos personagens, e apresenta um só conflito, sendo que o espaço e o tempo também são reduzidos.

Crônica: Também fazendo parte do gênero literário, a crônica é um texto mais informal que trabalha aspectos da vida cotidiana, muitas vezes num tom muito “sutil” o cronista faz uma espécie de denúncia contra os problemas sociais através do poder da linguagem.

Fábula: Geralmente composta por personagens representados na figura de animais, é de caráter pedagógico, pois transmite noções de cunho moral e ético. Quando são representadas por personagens inanimados, recebe o nome de Apólogo, mas a intenção é a mesma da fábula.

Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/redacao/tipos-narrativa.htm


Narração em primeira pessoa
Agora já sabemos que NARRATIVA e NARRAÇÃO não são exatamente a mesma coisa. A narração em primeira pessoa vocês leitores já conhecem bem, é aquela famosa narrativa onde o narrador-protagonista da estória narra os acontecimentos a partir da opinião dele. Dentro desse tipo de narração, ainda entra o narrador-testemunha, que é um personagem que faz parte da estória, mas não é o protagonista. 

Exemplo de narração em primeira pessoa:
"Eu quase não pude acreditar no que Antônia estava me contando. Depois de todo esse tempo, ser traído era a pior coisa que poderia acontecer comigo. Sentei no banco úmido ao lado dela e senti uma dor inimaginável tomar conta dos meus sentimentos. Ela era minha amiga, mas não deveria ter omitido aquele segredo por tantos anos.
- Você não é exatamente minha amiga, é? - perguntei com voz de choro. - Na verdade, você está sendo minha amiga agora e abrindo mão da amizade de todos os nossos amigos me contanto isso. Você sabe, não sabe?
- Eu sei muito bem disso. - Respondeu ela, fitando o chão."
Fonte: Nenhuma, inventei esse trecho agora, haha.

 Problema: A narrativa em primeira pessoa é um tanto quanto limitada. Busque não usá-la caso você queira explorar mais ou até mesmo dar uma importância maior a outros personagens.

Narração em terceira pessoa
A narração em terceira pessoa é aquela onde o narrador sabe sobre tudo, ele é como o Deus da estória. Ele está em todos os lugares e ele é todo mundo. Quando escolher essa narração,  você pode ser um narrador neutro; onde você relata os fatos e acontecimentos, mas não tenta influenciar o leitor com informações sobre as personagens. Ou, você pode ser um narrador seletivo; você relata os fatos e acontecimentos, mas você dá preferência para alguns personagens e deixa impressões sobre ele que podem influenciar o leitor a se posicionar a favor ou contra ele. (Convenhamos, o narrador seletivo é muito mais legal).

Exemplo de narração em terceira pessoa:
"Roberto quase não podia acreditar no que Antônia estava lhe contando. Depois de todo aquele tempo, 'ser traído era a pior coisa que poderia acontecer comigo', pensou ele. Sentou-se no banco úmido ao lado de Antônia e sentiu uma dor inimaginável tomar conta dos seus sentimentos. Ela era sua amiga, mas não deveria ter omitido aquele segredo por tantos anos. Então, ele finalmente disse:
- Você não é exatamente minha amiga, é? - perguntou com voz de choro. - Na verdade, você está sendo minha amiga agora e abrindo mão da amizade de todos os nossos amigos me contando isso. Você sabe, não sabe?
- Eu sei muito bem disso. - Respondeu ela, fitando o chão com convicção e apertando os dedos junto ao colo, na esperança de fazê-los estalar.
Agora, por favor, compare esse exemplo com o da narração em primeira pessoa.

Com a narração em terceira pessoa, você pode colocar coisas que o narrador-protagonista nunca saberia, como no exemplo da narração em primeira pessoa, o protagonista apenas sabe que Antônia estava fitando o chão. Mas, na narração em terceira pessoa, o narrador sabe que ela fitava o chão com convicção e que estava inutilmente tentando estalar os dedos, provavelmente porque estava nervosa.

Problema: Na narração em terceira pessoa, você terá de se esforçar mais para expressar os sentimentos da personagem, apesar de no exemplo eu ter mostrado que é possível colocar os pensamentos dele (nunca economize essa possibilidade quando escolher essa narração).

Dicas


Você precisa ter noção dos problemas de ambas as narrações para escolher a sua. Isso normalmente gera uma indecisão na hora de escrever. Eu mesma escrevi 33 páginas de um livro e agora recomeçarei, pois decidi que vai ficar melhor em terceira pessoa. 

Se o seu manuscrito contém muitos personagens que você considera importantes, que tem uma história sólida, um passado ou um futuro a se considerar, mas não está afim de fazê-los contar suas histórias de vida para o seu protagonista, terceira pessoa é uma boa escolha.

Se é necessário acontecer coisas que seu protagonista não pode saber, mas você já quer deixar claro para o seu leitor que o protagonista não sabe, terceira pessoa é uma boa escolha.

Se você quer escrever cenas intensas, onde você terá de descrever os sentimentos do personagem como se fosse ele, primeira pessoa é uma boa escolha.

Se você quer que o leitor se apegue ao protagonista, ambas são uma boa escolha, basta você ter técnica para saber cativar o leitor*.

Enfim, esses são apenas alguns exemplos, mas a verdade é que nenhuma dessas condições determina o tipo de narração a se usar, pois muitos escritores conseguem escrever incríveis estórias tanto em primeira quanto em terceira, independentemente do gênero literário. Portanto, você precisa escolher. Caso fique em dúvida se está ficando bom ou não com a narração que você escolheu, Leia meu último post e você saberá como acabar com esse problema.

* - Em breve teremos um post mostrando como ter técnica para cativar o leitor (é só uma força, como sempre).

Esse foi o Você, escritor! dessa semana. Informo agora que caso você tenha alguma dúvida ou queira pedir ajuda com algo relacionado a escrita, você pode mandar um e-mail para interesses.sutis@gmail.com, e logo atenderemos seu pedido com um post na coluna! Espero que tenham gostado, até mais!

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4 comentários

  1. Sempre fiquei muito em dúvida com isso de narração, tanto que quando eu comecei a escrever era em primeira pessoa, antes de meu computador quebrar eu tinha uns quinze ou vinte arquivos que tinham um parágrafo ou um capítulo contando o começo de modos diferentes e em primeira pessoa, terceira, e até um que começava em terceira e depois se tornava primeira.
    Mas agora eu estou bem e com 200 páginas de narração em terceira pessoa, e as vezes eu também mostro outras histórias que não a da protagonista, já que tenho outros dez personagens importantes e igualmente encantadores para mostrar sempre um pouquinho (e as vezes é pouquinho mesmo, é coisa demais pra contar ASHUASHUAS).
    mas eu também tenho na minha cabeça uma ideia de um livro em primeira pessoa, que seria mais profundo e mostraria só a vida de um personagem em relação ao amor e as amizades, então isso REALMENTE varia muito, e como você disse, tem autores ótimos que conseguem contar muita coisa em primeira pessoa.
    Essa coluna é tão legal, já estou esperando pelo post do domingo que vem (e o resultado do sorteio, é claro).

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    1. Sim, exatamente! Varia muito e se você dominar uma delas pelo menos, já se sai muito bem! Que bom que está gostando <3 o resultado do sorteio de aniversário do blog já saiu, hehe.

      Beijão! <3

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  2. Eu voltei ~ (por hoje que to com net kkk)
    Aproveitando que tenho net por hoje, lendo o post da Saroca ~
    Acho que decidir entre primeira e terceira pessoa é algo MUITO difícil quando se vai começar. Eu gosto, amo, adoro escrever em terceira pessoa, acho que é a melhor coisa do mundo desde que eu sempre quero mostrar vários pontos de vista. Quando comecei a escrever foi em terceira pessoa, então é o que eu tenho mais facilidade na hora. Só que ano passado eu me desafiei a escrever algo em primeira pessoa e acabei conseguindo (foram 170 e poucas páginas em 1 mês que valeram muito a pena!), percebi que amo as duas formas, que me dou bem em ambas apesar de preferir a terceira.

    Então, acho que é primordial antes de escrever ver este tipo de coisa, apesar de haver livros em que é escrito por diferentes pontos de vista (Se não me engano o livro The 100 é desse jeito) de vários personagens, e dependendo de quem escreve, o autor do livro que conduz tudo o que acontece ali, pode ser surpreendente. ^^

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    1. Haha, voltou <3 Sim, isso é muito difícil de decidir! Eu ainda não me decidi ao certo de qual é melhor pra mim, mas sim, tipo o As crônicas de gelo e fogo, cada capítulo é narrado por um personagem... Isso eu acho muito legal! Dá pra misturar mesmo... tipo na crônica do matador do rei, tem as partes em primeira pessoa e os interlúdios que são em terceira...

      Bj!

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