Resenha - Morte e vida severina

quarta-feira, dezembro 05, 2018


Escrito por João Cabral de Melo Neto e publicado em 1955, Morte e Vida Severina é um auto de Natal pernambucano que narra a fuga de Severino, um sertanejo retirante. Essa grande obra de JCMN, pertence à terceira geração do modernismo brasileiro e é extremamente marcante.


Título: Morte e Vida Severina (Auto de Natal Pernambucano)
Autor: João Cabral de Melo Neto
Ano: 1955
Nº de páginas: 28
Editora: Lido em PDF.
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Coletânea de poemas - O Rio (1953), Morte e Vida Severina (1954-55), Paisagens com Figuras (1955) e Uma Faca sem Lâmina (1955) - de João Cabral de Melo Neto publicados na década de 1950. Para Cabral, esta década foi crucial para a consolidação da linguagem que viria a refinar nos anos seguintes. No poema O Rio, Cabral trata do rio Capibaribe e de seu povo, só que, desta vez, sob uma ótica mais documental e narrativa. Já Morte e vida Severina, publicado pela primeira vez em 1956, é a obra mais popular e social do poeta. Retrata a fuga da seca de retirantes que seguem o curso do rio Capibaribe. Encenada dez anos depois de sua publicação, com música de Chico Buarque, recebeu diversos prêmios, como o do Festival de Nancy, na França. Em Paisagens com Figuras (1955), o poeta mescla, nos poemas, descrições das paisagens de Pernambuco e da Espanha. Por fim, em Uma Faca sem Lâmina (1955), obra densa e excepcional, Cabral remete a um tema que lhe é caro: a composição poética.

Morte e Vida Severina é um auto, ou seja, apesar de encontrarmos em livros em formato de um longo poema, esse texto foi escrito, na verdade, para o meio teatral. Autos são peças populares, de linguagem fácil, que se referem a temas religiosos e tem como objetivo ser moralizante. 

Dividida em 18 partes, a obra narra em primeira pessoa, a trajetória de Severino, um sertanejo retirante, que sai da Serra da Costela e segue o Rio Capibaribe até a capital de Recife. Como o próprio título sugere, Severino está fugindo da morte para encontrar a vida, pois com as condições de vida do sertão, era preciso vencer a morte que assombra a vida no deserto.

Logo no início do texto, percebe-se que "Severino" deixa de ser um nome próprio e passar a ser um adjetivo, que caracteriza todos os sertanejos que vivem a vida severina (sofrida, difícil e tomada pela miséria):

[...] Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina
[...]

Dessa forma, Severino não é uma voz individual, ele representa um grupo social inteiro. A morte Severina pode acontecer, inclusive, de 4 maneiras: de velhice aos 30 (morte precoce), de emboscada antes dos 20 (por tiro), de fome um pouco por dia (miséria e pobreza) e fraqueza e doença em qualquer idade (ou antes mesmo de ter nascido). 

Em sua retirada, Severino encontra dois outros Severinos mortos, passa pelo velório de um Severino, encontra uma rezadeira que trabalha com enterros de Severinos e, por fim, ao chegar em Recife, senta-se ao lado de um cemitério por coincidência e escuta a conversa de dois coveiros, que falavam sobre a quantidade de retirantes que morriam quando chegavam em Recife. Depois de se deparar com tantas mortes, Severino vê que não é possível escapar da morte, então escolhe tirar a própria vida.

Confesso que esse texto é muito triste e inesquecível. Quando você pensa que não há mais possibilidades de o Severino ver mais mortes, mais elas aparecem e sempre acompanhadas de muita miséria. A vida severina era pobre e seca, não havia esperança no sertão, por isso a necessidade de se retirar.

Ao final, Severino encontra com José Carpinteiro, que acaba de receber a notícia de que seu filho nasceu. Os dois vão ver o bebê e, depois, os vizinhos vão até lá para dar presentes extremamente simples, mas de coração. Essa última cena representa o presépio de Natal e o nascimento do menino Jesus, fazendo jus á religiosidade do auto teatral. Portanto, a mensagem da peça é que, por conta do nascimento depois de tantas mortes, até a morte Severina vale a pena ser vivida.

Essa obra regionalista e de vocabulário regionalista não possui esquema de rimas, mas possui uma sonoridade inigualável. O estilo racional e equilibrado de João Cabral de Melo Neto se faz presente, mas acaba sendo humanizado pela temática social. Esse longo poema narrativo é leitura obrigatória!

E essa foi a resenha de Morte e Vida Severina, e aí, já leu? Já havia ouvido falar? Comenta aí!

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