Resenha - A história de Kullervo

segunda-feira, abril 06, 2020


“A história de Kullervo” foi o primeiro conto de J.R.R. Tolkien, servindo de inspiração para obras futuras do autor. Escrito em 1916, publicado em 2015, e com o final somente em rascunho, o conto é baseado em um conto popular da cultura finlandesa, o “Kalevala”.


Título: A história de Kullervo
Autor: J.R.R. Tolkien
Ano: 2016
Nº de páginas: 168
Editora: WMF Martins Fontes
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Kullervo, filho de Kalervo, é talvez o mais sombrio e trágico de todos os personagens de J.R.R. Tolkien. O infeliz Kullervo, como Tolkien o chamou, é um desafortunado menino órfão com poderes sobrenaturais e um destino trágico. Criado na propriedade do sombrio mago Untamo, que matou seu pai, raptou sua mãe e tenta matá-lo três vezes ainda menino, Kullervo está sozinho exceto pelo amor de sua irmã gêmea Wanona, e protegido pelos poderes mágicos do cão negro Musti. Quando Kullervo é vendido como escravo, jura vingança contra o mago, mas aprenderá que, mesmo no momento da vingança, não há como escapar do mais cruel dos destinos. Tolkien escreveu que A história de Kullervo era o germe de minha tentativa de escrever lendas minhas, e que era um aspecto importante nas lendas da Primeira Era; seu Kullervo foi o ancestral de Túrin Turambar, trágico herói incestuoso de Os filhos de Húrin. Além de ser uma história poderosa por si só, A história de Kullervo, publicada aqui pela primeira vez com os rascunhos, as notas e um ensaio-conferência do autor (juntamente com comentários de Verlyn Flieger, responsável pela edição original desse título) sobre sua obra-fonte, o Kalevala, é uma pedra fundamental da estrutura do mundo inventado por Tolkien.


A obra foi editada, organizada e pesquisada por Verylin Flieger, especialista em estudos de mito e mitologia comparada. O conto é baseado em “Kalevala”, um conto popular finlandês. Traduções foram necessárias para que Tolkien lesse o original, mas como linguista, para ele foi um desafio interessante fazer a tradução.

A edição da editora Martins Fontes, contém o conto escrito pelo autor (sem final, já que não foi escrito), notas e comentários sobre termos, palavras criadas e personagens, bem como a explicação sobre a tradução e embasamento de Tolkien na obra Kalevala para a criação de Kullervo. Dessa forma, o livro acaba sendo mais um estudo sobre o primeiro conto de J.R.R. Tolkien.


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A história de Kullervo é bastante simples: o pai de Kullervo, Kalervo, tinha uma richa com o irmão Untamo. Kalervo é assassinado por Untamo, que rapta a mulher do irmão (sem nome). A mãe de Kullervo ainda estava grávida dele e de sua irmã gêmea. Quando ela dá à luz, Untamo tenta matar Kullervo desde que nasce. A mãe logo morre (de causas desconhecidas), e Kullervo promete vingança por ter sido alvo do tio durante toda a sua infância. Ele tenta várias maneiras de se vingar, até que conhece Musti, um lobo que lhe oferece três frios do seu pelo e, quando precisar, Kullervo pode chamá-lo usando um pêlo. Dessa forma, Kullervo consegue escapar de várias emboscadas do tio. Depois de muito tempo separado da irmã, ele conhece na floresta uma garota bonita e seduzente. Se eu contar mais do que isso, acabarei dando spoilers da história, mas o final é trágico.


O que é mais interessante, além do conto, é o fato de que elementos dele representam a vida real de Tolkien, que perdeu os pais quando era bem pequeno, assim como Kullervo:

“Quando Kullervo fala de si mesmo como “sob o céu (...) sem pai” e “sem ter mãe desde o começo”, isso não pode ser desconsiderado, muito menos dois versos cancelados, duros e explícitos, transferidos literalmente do Kalevala de Kirby, em que Kullervo lamenta sua sina para os trechos da poesia da própria história de Tolkien:

De pequeno perdi a mãe o pai
Era jovem (fraco), perdi a mãe.
(Tolkien MS B 64/6 Folha 11 verso)

O fato de ele primeiro incluir e depois riscar essas linhas é significativo. Pode ser que fossem ao mesmo tempo próximas demais da tragédia da sua própria vida para serem confortadoras. Como Kullervo, Tolkien perdeu primeiro o pai e, depois, a mãe”. (p. 141)

Além disso, como comentei anteriormente, Tolkien usou seu primeiro conto como base para suas obras futuras:

“Essa narrativa muito precoce, mesmo incompleta, inflamou sua imaginação e foi o primeiro prenúncio de alguns dos mais memoráveis vultos e momentos literários do Silmarillion. (...) O órfão infeliz, a irmã desconhecida, o punhal herdado, a família rompida e as consequências psicológicas disso, o amor proibido entre jovens solitários, o desespero e a autodestruição na ponta da espada, tudo se transfere para “A história dos filhos de Húrin”, não diretamente do Kalevala, mas filtrado através de A história de Kullervo. Agora podemos perceber de onde vieram esses elementos, como chegaram a ser o que são”. (p. 159-160)

Foi interessantíssimo ler “A história de Kullervo”, principalmente por ser o primeiro conto do pai da fantasia e um dos autores que eu mais admiro. Recomendo muito a leitura para todos os fãs do Professor que gostam de entender o processo de criação dele, buscando compreender não só o conteúdo, mas também como era a forma e quais eram as suas inspirações desde o começo.

E você, já leu ou tinha ouvido falar dessa obra? Comenta aí!

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