[Poema] Meu Produto
segunda-feira, novembro 09, 2020Meu produto
Certo dia me peguei pensando:
Eu sou uma máquina.
Como se não bastasse o meu corpo
fazendo tudo no automático,
Meu cérebro faz o mesmo.
Mexo meus membros e nem percebo,
Respiro e nem percebo,
Pisco e nem percebo,
Isso sem falar no que ocorre por dentro.
É como um sistema automático,
Funcionando apenas porque ainda estou ligada na tomada.
É engraçado o fato de eu não precisar de pilhas ou baterias,
Um prato de comida e um copo d'água me fazem existir.
E eu percebo a importância disso?
Não.
Talvez, se um dia faltar matéria-prima para a produção
Ou se eu usar o material errado, pode ser que eu perceba,
Afinal, isso afetará meu sistema, minha máquina, minha fábrica.
É hilário ser praticamente uma tecnologia natural evoluída,
Mas que não consegue se comportar como tal.
Sou uma máquina que fecha os olhos e imagina outro mundo,
Cria outras realidades,
Manipula as próprias loucuras,
Sente nos órgãos quando a produção está sob pressão,
Não consegue parar de produzir e se desligar quando há muito para processar.
Sou uma empresa que nasceu sem administração,
Me ajudaram a fazer isso ao longo dos anos.
O conhecimento,
As margens de erro,
O desenvolvimento,
As análises de resultados.
Mas agora, capaz de pensar que um dia, inevitavelmente,
Vou falir,
Encaixotar tudo,
Demitir todos,
Caminhar lentamente até ela,
A maior máquina de todas,
E desligá-la.
Vou fechar as portas do mesmo jeito que as abri.
Espero que até lá,
Muita gente tenha gostado do produto que ofereci.
Sara Muniz, 2020.
0 comentários
"Comento, logo existo."