Resenha - O sentido de um fim

quinta-feira, novembro 12, 2020

 

O sentido de um fim, de Julian Barnes, foi publicado em nova edição pela TAG Inéditos, em 2019. O romance é uma lembrança do passado e uma busca no presente em relação à morte de Adrian, um amigo brilhante do protagonista, Tony. Com narrativa fluida e cheia de citações que devem ser destacadas, o livro reflete sobre o viés filosófico do suicídio de um jeito simples.

Título: O sentido de um fim
Autor: Julian Barnes
Ano: 2019
Nº de páginas: 176
Editora: TAG Inéditos
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Tony Webster vive em Londres. Um dia, recebe uma pequena herança e o fragmento de um misterioso diário de um de seus melhores amigos, Adrian Finn, que cometeu suicídio aos 22 anos. A partir dessa lembrança, Webster revisita sua juventude na Inglaterra dos anos 1960 e tenta decifrar os escritos herdados, confrontando sua própria memória, a inexata versão dos fatos e o seu papel na cadeia de eventos que resultou na morte do brilhante amigo Adrian.

Tony Webster narra O sentido de um fim em primeira pessoa, o que nos aproxima completamente dos pensamentos da personagem. Entretanto, o que descobrimos no final da história, é que ele é o que chamamos na Literatura de "a personagem não confiável". 

Em Londres, Tony era um adolescente na escola e tinha mais dois amigos. Logo no início, todo mundo fica muito abalado pela história de Robson, um colega de classe deles que se matou. Com esse evento, eles conhecem Adrian, um garoto extremamente inteligente (e que adora uma discussão). Adrian entra para o grupo de amigos e em todas as cenas é possível perceber que ele era um rapaz que se estressava com qualquer coisa. Com os hormônios à flor da pele e com todos os amigos arranjando namoradas e perdendo a virgindade, Tony começa a namorar Verônica. Os dois enfrentam alguns conflitos no namoro e terminam. Depois de um tempo, Adrian comete suicídio também.

Após o contato com o passado, o narrador nos leva para o futuro, 22 anos depois, no qual ele já foi casado, tinha uma filha e era velho. Certo dia, ele recebe uma herança e uma folha do diário de Adrian. A partir daí, Tony decide que quer encontrar o diário inteiro do amigo para entender como ele contribuiu para o suicídio, mas para isso, ele terá de voltar a falar com seu amor da juventude: Verônica. O desfecho do livro é bastante surpreendente e ao longo da obra podemos destacar vários quotes:

"Nós vivemos no tempo - ele nos prende e nos molda -, mas eu nunca achei que entendia isso muito bem. E não me refiro a teorias de como ele se dobra e volta para trás, ou se pode existir em versões paralelas. Não, eu me refiro ao tempo comum, rotineiro, que os relógios nos mostram que passa regularmente: tique-taque, clique-claque. Existe algo mais plausível do que um segundo ponteiro?" (p. 13)

"(...) todos nós sofremos traumas, de um jeito ou de outro. Como não sofreríamos, a não ser num mundo com pais, irmão, vizinhos e amigos perfeitos? E há também a questão, da qual tanta coisa depende, de como nós reagimos ao trauma: se o admitimos ou reprimimos, e como ele afeta a nossa forma de lidar com os outros. Alguns admitem o trauma e tentam atenuá-lo; alguns passam a vida tentando ajudar outras pessoas que foram traumatizadas; e há aqueles cuja principal preocupação é evitar sofrer mais traumas, a qualquer custo. E estes é que são cruéis, é delos que temos que nos precaver". (p. 58)

"Algum inglês disse que o casamento é uma refeição comprida e sem graça onde servem o pudim primeiro". (p. 69)

"Quantas vezes nós contamos a história da nossa vida? Quantas vezes nós ajustamos, embelezamos, editamos espertamente? E quanto mais longa a vida, menos são os que ainda estão por perto para nos contradizer, para nos lembrar que nossa vida não é a nossa vida, mas apenas a história que nós contamos a respeito da nossa vida. Contramos para outros, mas - principalmente - para nós mesmos". (p. 114)

Recomendo muito a leitura para quem busca um romance rico, porém simples e rápido de ler. Gosto muito de romances com esse estilo e lembrei de O apanhador no campo de centeio (RESENHA AQUI) e de Demian (RESENHA AQUI). Então ficam aqui mais essas duas dicas de leituras similares e reflexivas. 

E você, já leu essa obra ou tinha ouvido falar? Comenta aí!

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