Resenha - Admirável Mundo Novo
quinta-feira, dezembro 10, 2020Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, é uma distopia clássica, publicada pela primeira vez em 1932. A proposta da tecnologia como base da existência e reprodução humana é diferente de tudo o que eu já li e esse livro possui uma carga tão pesada, que é impossível terminar e não ficar pensando na possibilidade dos cenários apresentados serem reais um dia.
Título: Admirável Mundo NovoAutor: Aldous HuxleyAno: 2014Nº de páginas: 306Editora: Lido no KindleAvaliação: ★★★★★Sinopse: Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras "pai" e "mãe" produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo. Um universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série, a uniformidade, e que idolatra Henry Ford. Essa é a visão desenvolvida no clarividente romance distópico de Aldous Huxley, que ao lado de 1984, de George Orwell, constituem os exemplos mais marcantes, na esfera literária, da tematização de estados autoritários. Se o livro de Orwell criticava acidamente os governos totalitários de esquerda e de direita, o terror do stalinismo e a barbárie do nazifascismo, em Huxley o objeto é a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais fazer nenhum sentido, e no qual a obra de Shakespeare adquire tons revolucionários. Entretanto, o moderno clássico de Huxley não é um mero exercício de futurismo ou de ficção científica. Trata-se, o que é mais grave, de um olhar agudo acerca das potencialidades autoritárias do próprio mundo em que vivemos.
"Mas o que torna a coisa ainda mais dolorosa, é que ela mesma se considera como carne. "
À medida que a liberdade econômica e política diminui, a liberdade sexual tem tendência para aumentar, como compensação. E o ditador (a não ser que tenha necessidade de carne para canhão e de famílias para colonizar os territórios desabitados ou conquistados) fará bem em encorajar esta liberdade.
E o lar era tão sujo psíquica como fisicamente. Psiquicamente era uma coelheira, uma fossa de estrume, aquecido pelos detritos da vida que nele se empilhava, fumegante das emoções que dele se exalavam. Que intimidades obscenas entre os membros do grupo familiar! Semelhante a uma louca furiosa, a mãe, criava os seus filhos (os seus filhos ... ), criava-os como uma gata... mas como uma gata que falasse, uma gata que dissesse e repetisse vezes sem conta: "O meu bebé!... O meu bebé! ... O meu bebé!", e depois: "Oh, oh, no meu peito as mãozinhas - essa fome e esse prazer indizivelmente doloroso! Até que enfim, o meu bebé adormece, o meu bebé adormece, uma gota de leite, branco ao canto da boca! O meu bebezinho dorme ..."
O mundo estava cheio de pais e, por consequência, cheio de miséria; cheio de mães e, por consequência, de toda a espécie de perversões, desde o sadismo até à castidade; cheio de irmãos, de irmãs, de tios, de tias - cheio de loucura e suicídio.
É impossível conseguir-se alguma coisa por nada. A felicidade tem de ser paga. O senhor paga, senhor Watson, o senhor paga porque me parece que se interessa excessivamente pela beleza. Eu interessava-me muito pela verdade. Por isso também paguei.
Obviamente, a história não é somente a introdução dela, há também o protagonista: Leonard, um homem da casta "Alfa", uma das mais prestigiadas. Ele é um pouco diferente fisicamente de todos os outros e se sente infeliz com aquela sociedade. Ele é apaixonado por Lenina, uma mulher promíscua e exemplo de criação daquela sociedade.
Os conflitos começam quando Leonard vai visitar uma reserva selvagem chamada de "Malpaís", onde as pessoas que vivem lá ainda mantém os mesmos costumes das sociedades do passado: ter família, envelhecer, ler, etc. Lá, Leonard e Lenina conhecem John, que também é chamado de Selvagem. Leonard decide levar o Selvagem e sua mãe para conhecerem o Admirável Mundo Novo e, é claro que o Selvagem não se encaixa na sociedade e faz discursos maravilhosos criticando aquele mundo. Inclusive, ele é o personagem que mais cita Shakespeare.
Como comentei anteriormente, a obra é bem impactante. Recomendo muito a leitura para quem busca algo diferenciado em obras clássicas, pois além de um mundo totalmente novo e com propostas inovadoras (porém prejudiciais em inúmeros aspectos), ainda há um enredo, um romance e personagens muito bem construídos por trás. Vale muito a pena ler e refletir sobre a nossa sociedade atual e os comportamentos que adotamos em relação à tecnologia vs. mundo atual, principalmente no que tange os relacionamentos.
E você, já leu Admirável Mundo Novo? Está esperando o quê? Comenta aí!
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