Resenha - As Alegrias da Maternidade

quinta-feira, dezembro 03, 2020

 

As Alegrias da Maternidade, da autora nigeriana, Buchi Emecheta, foi publicado no Brasil em 2018, pela editora Dublinense. Esse livro com certeza entrou para os meus favoritos da vida e foi a segunda melhor leitura de 2020 para mim.

Título: As Alegrias da Maternidade

Autora: Buchi Emecheta

Ano: 2018

Nº de páginas: 320

Editora: Dublinense

Avaliação: ★★★★★

Sinopse: Nnu Ego, filha de um grande líder africano, é enviada como esposa para um homem na capital da Nigéria. Determinada a realizar o sonho de ser mãe e, assim, tornar-se uma “mulher completa”, submete-se a condições de vida precárias e enfrenta praticamente sozinha a tarefa de educar e sustentar os filhos. Entre a lavoura e a cidade, entre as tradições dos igbos e a influência dos colonizadores, ela luta pela integridade da família e pela manutenção dos valores de seu povo.


O título irônico de "As Alegrias da Maternidade" já dá a entender que livro trará, sobretudo, as mazelas da maternidade. Nnu Ego é a protagonista da história e ela é filha de um africano poderoso e a amante dele, ou seja, ela nasce fora de qualquer elo de casamento. Quando Nnu Ego se casa pela primeira vez e não consegue engravidar, todos dizem que é porque ela foi amaldiçoada por uma escrava morta injustamente na tribo em que viva anteriormente. Rejeitada pelo marido, Nnu Ego se casa uma segunda vez e, finalmente, consegue se tornar mãe. Na verdade, Nnu Ego têm muitos filhos e três deles são meninos, algo de importantíssimo valor na sociedade em que vive, já que naquela perspectiva, os homens eram os responsáveis por trabalhar e trazer dinheiro para suas famílias. 

"Todos são escravos, inclusive nós. Quando os patrões maltratam nossos maridos, eles descontam em nós. A única diferença é que eles recebem algum dinheiro pelo que fazem, em vez de serem comprados. Mas o pagamento só dá para alugar um quarto velho como este".

"Seu amor pelos filhos e seu sentimento de dever para com eles eram as correntes que a mantinham em sua escravidão".

O papel da mulher? Bem, era engravidar, dar filhos homens ao marido, de repente filhas mulheres para renderem dinheiro para os pais com os dotes de casamento, e cuidar de todos esses filhos, assim como satisfazer o marido e cuidar dele também. Nnu Ego, entretanto, desde que se casou com o novo marido, precisou trabalhar para conseguir comprar comida. Em vários momentos, ela e os filhos passam fome por estarem sem o pai por perto.

"Esperava-se que fosse forte, já que era a esposa mais velha; que se comportasse mais como homem que como mulher. E já que os homens não podiam sofrer abertamente, ela tinha de aprender também a esconder sua dor".

Além disso, com o casamento, Nnu Ego, que sempre viveu em uma aldeia sustentada pela lavoura, agora precisava trabalhar vendendo coisas para comprar comida na cidade. Esse livro nos dá muitas informações sobre a cultura de alguns povos da Nigéria, mas também é um romance de linguagem simples e fluida, cheio de sofrimento e, às vezes, sentimentos de alívio. O leitor acompanha de perto a aventura de ser mãe e mulher de Nnu Ego, uma personagem em um cenário machista, conservador e opressor para o sexo feminino. Entretanto, é interessante ver como as mulheres pensavam em relação à isso e concordavam com muitas dessas coisas, justamente por conta do aspecto sociocultural e histórico.

"(...) quanto mais eu penso no assunto, mais me dou conta de que nós, mulheres, fixamos modelos impossíveis para nós mesmas. Que tornamos a vida intolerável umas para as outras. Não consigo corresponder a nossos modelos, esposa mais velha. Por isso preciso criar os meus próprios".

"Mas vocês são meninas! Eles são meninos. Vocês precisam vender para que eles cheguem a uma boa posição na vida e tenham condições de tomar conta da família".

Recomendo demais a obra e posso dizer que com e esse livro, reafirmei algo que eu já tinha em mente em relação à maternidade e à paternidade: antes de ter filhos, você vive de um jeito, um jeito individual e focado somente em você e no seu desenvolvimento. Quando você têm filhos, você passa a viver mais em prol do desenvolvimento deles do que do seu, eles se tornam a prioridade por anos e, depois que crescem e vão embora, deixam os pais à deriva, sem saber o que fazer, já que eles passaram tantos anos vivendo pelos filhos. A recompensa disso? Pode ser boa ou ruim, mas ter filhos continuará significando investir boa parte da sua vida pela vida deles, sem saber se pode esperar algo em troca.

"Não sei ser outra coisa na vida, só sei ser mãe. O que vou conversar com uma mulher que não tenha filhos? Tirar meus filhos de mim é como me tirar a vida que sempre conheci, a vida com a qual estou acostumada".

"Afinal, nasci sozinha e sozinha hei de morrer. O que ganhei com isso tudo? Sim, tenho muitos filhos, mas com que vou alimentá-los? Com minha vida. Tenho que trabalhar até o osso para tomar conta deles, tenho que dar-lhes meu tudo. E se eu tiver a sorte de morrer em paz, tenho que dar-lhes minha alma. Eles adorarão meu espírito morto para que zele por eles: ele será considerado um bom espírito enquanto eles tiverem fartura de inhame e de filhos na família, mas, se por acaso alguma coisa der errado, se uma jovem esposa deixar de conceber ou se houver escassez, meu espírito morto será culpado. Quando ficarei livre?".

E você, leria um livro com essa temática? Já leu livros de autoras nigerianas? Comenta aí!

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