Resenha - O alforje

segunda-feira, março 25, 2019


O Alforje, nessa linda edição da TAG - Experiências Literárias, é um romance que se passa nos  desertos árabes e narra a peregrinação de vários personagens que acabam se conectando por um misterioso alforje. Os personagens são: o ladrão, a noiva, o líder, o cambista, a escrava, o peregrino, o sacerdote, o dervixe e o cadáver. Cada um deles é "dono" de um capítulo, mas todos acabam se encontrando por conta de um alforje que está forrado de pergaminhos.



Título: O Alforje
Autor: Bahiyyih Nakhjavani
Ano: 2017
Nº de páginas: 336
Editora: TAG - Experiências Literárias
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Ao contrário do que se diz, o deserto é um território fértil. Ao menos para Bahiyyih Nakhjavani, que, a partir de uma trama complexa, faz convergir nas areias árabes um grupo de personagens que têm suas trajetórias costuradas por um misterioso alforje. Uma noiva que viaja para encontrar o futuro marido, um padre em peregrinação, um beduíno de alma livre e uma escrava falacha são alguns dos retratos que a autora pinta com maestria e profundidade. Ainda que tenham origens, crenças e desejos muito diferentes, todos os viajantes terão a vida transformada pelas escrituras sagradas.

O romance se passa em meados do século XIX, entre as cidades de Medina e Meca. Há a antropomorfização do deserto, que acaba se tornando um personagem ao longo da história, influenciando no comportamento dos personagens.   


Preciso compartilhar que, quando comecei a leitura, eu já não sabia mais quem era quem, quem estava se encontrando e quem não estava, se estava no passado, no presente ou no futuro. No começo é bastante confuso, mas depois tudo vai se encaixando e no final todos os personagens estão ligados. Gostei bastante do livro, mas a linguagem (tradução) não prende muito a sua atenção e é fácil dispersar, comprometendo o entendimento da história.

"Portanto, essa é a nossa história, ponderou o Cadáver, recostado em frágil dissolução na parede norte da ruína. Uma história de podridão delicada e de sutil decadência, que dia a dia desenrola seu carretel. Uma história de confiança, uma história de mudança, uma história de desapego e vínculo, como o perfume no deserto, que perdura na memória de homens saturados de si mesmos".

Obviamente, esse aspecto da peregrinação me lembrou o The Canterbury Tales (Os contos da Cantuária, em português), um livro da idade média, escrito por Geoffrey Chaucer. Eu resenhei alguns contos do livro, clique para acessar: 1234 - na obra, vários peregrinos começam a contar suas histórias, algo bastante semelhante ocorre em O Alforje.

Quando reconta em seus capítulos os mesmos acontecimentos sob diferentes perspectivas, o romance mantém-se envolvente, adicionando novos e inesperados detalhes, capazes de transformar a percepção do leitor e de lembrá-lo de que o julgamento prematuro sobre alguém pode ser falho e desumanizador. Em outras palavras, O Alforje, assim como a fé Bahá'í parece quer nos dizer: tudo é relativo. (Revista TAG)
Algo que não posso deixar de comentar, é sobre a religião da autora. A fé Bahá'í, totalmente desconhecida por mim até realizar a leitura, "é uma religião monoteísta que defende a igualdade racial, cultural e a união espiritual de toda a humanidade. Os Bahá'ís acreditam que as principais religiões da atualidade possuem a mesma fonte espirital e partem do mesmo Deus, mas com mensageiros diferentes, como Moisés, Jesus, Maomé, Krishna e Buda. Os ensinamentos dessa religião priorizam a unificação da humanidade em um presente de animosidades religiosas e políticas" (Revista TAG), ou seja, temos no oriente (um dos lugares mais conservadores em termos de religião) uma religião que é liberal e quase ninguém sabe disso!





Gostei bastante d'O Alforje, mas acho que a linguagem poética original não foi tão valorizada em português, pois eu geralmente me prendo até mesmo em livros com essa linguagem, mas em O Alforje, eu perdi vários momentos importantes. A proposta é muito interessante, os personagens são bem construídos e o modo como a história vai se costurando é incrível! Recomendo muito a leitura!

E você, já leu O Alforje? Ouviu falar? Comenta aí!

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