Resenha [conto] - Laços de Família, de Clarice Lispector

segunda-feira, novembro 12, 2018


Os laços de família são laços ou correntes que nos aprisionam ao comodismo?

Severina foi passar um tempo na casa de sua filha Catarina. O genro não suportava a sogra, que opinava em tudo. O filho do casal era a vítima, ele era magro e fraco demais, já tinha 4 anos e não falava por incapacidade do casal.

O conto começa com Severina indo embora, Catarina leva a mãe à estação e a autors descreve como as duas não eram tão próximas. Dessa forma, Severina pergunta o tempo todo se não está esquecendo nada e eu interpretei que ela não percebeu estar esquecendo de dizer que amava a filha, de abraçá-la e coisas do gênero.

Enfim, quando Catarina volta para casa, seu filho finalmente diz "mamãe". Ela automaticamente tem a ideia de contar para a sua mãe, mas mentiria, diria que o menino diria "mamãe, o que é Deus?". Mascararia as primeiras palavras do filho para se impor. Na verdade, o menino diz em seguida "feia". A mulher pega o filho e sai, eis que presenciamos as inseguranças do marido dela.

Observando os dois saindo sem justificativa, para sabe-se lá onde, ele se pergunta porque Cecília estava fazendo coisas sem ele. Os dois sempre foram um casal tranquilo, que concordava em tudo e funcionava em harmonia. Por que ela estava fazendo coisas sozinha? Buscando alegrias sozinha, sem compartilhar com ele? Volto à minha pergunta inicial agora, o relacionamento familiar são laços ou correntes? Por que os dois não podiam ter momentos individuais? Desde quando tudo precisa ser feito em conjunto, de modo compartilhado? Esse conto me fez refletir sobre essas questões.

Ao final, o homem planeja levar os dois ao cinema quando voltassem, no seu comodismo, no seu sábado, ele faria algo com sua família, porque ele não era mais capaz de viver fora daquela bolha.

O conto curto que dá nome à coletânea, é o que ilustra de forma rápida e direta a dependência familiar. Até que ponto podemos nos apoiar em nossos familiares? Quando podemos ser livres e quando temos o dever de compartilhar momentos? Por que isso se torna um dever depois de um tempo?

Retomando à simbologia do ovo do conto "Amor", e ao contexto do conto "Feliz aniversário", vejo agora que uma família é composta por ovos, todos saem da mesma galinha, mas uma hora todos precisam eclodir. Entretanto, uns demoram mais, outros menos. Todos estão conectados por sua origem, são todos uma família. O problema é quando cada um quer viver no seu próprio ovo, e nesse conto em em específico, o marido queria que a esposa é o filho vivessem no seu ovo, sob a proteção da sua cômoda casca.

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