Resenha - Nada

segunda-feira, maio 04, 2020


Nada, da autora espanhola Carmen Laforet, foi publicado pela primeira vez em 1945. A obra se passa em um cenário conturbado de pós-guerra e com a tentativa da protagonista de ter uma vida normal.


Título: Nada
Autora: Carmen Laforet
Ano: 2018
 Nº de páginas: 280
Editora: TAG Experiências Literárias
Avaliação ★★★★★
Sinopse: Andrea é uma jovem solitária que, depois da Guerra Civil Espanhola, muda-se para Barcelona para morar na casa da avó e cursar a faculdade de Letras. Ela chega à cidade cheia de expectativas, mas a realidade a assusta logo no primeiro dia, ao ter contato com a família. Na faculdade, ela tem poucos conhecidos e vive num clima de falsas aparências, em que as pessoas escondem suas verdadeiras intenções. Em meio a escândalos e intrigas, Andrea terá de aprender a viver e, quem sabe, encontrar a felicidade.


Após a Guerra Civil Espanhola, a protagonista Andrea se muda para Barcelona e vai morar na casa da avó e começar a faculdade de Letras. Apesar de chegar toda animada na cidade, acaba se deparando com uma família problemática e uma casa horrível. A partir da narração de Andrea, percebemos que ela é uma garota bastante simples e que, ao longo dos capítulos, vai perdendo cada vez mais as esperanças em ter uma vida melhor na cidade.


A casa da família de Andrea é descrita como "horrível e fantasmagórica", que produz sons e presencia todos os problemas e brigas entre os moradores. De certa forma, essa personalidade da casa me lembrou a obra "O Cortiço", de Aluísio Azevedo (resenha aqui), em que o cortiço é considerado como personagem. Por isso, a casa em Nada tem um aspecto de personagem também, principalmente porque 90% das cenas acontecem na casa.


Na família da avó e do avô também vivem Juan, que é casado e tem um filho com Glória. Román, tio de Andrea, também vive na casa, bem como Angustias, a mãe de Andrea. O nome da mãe dela como "Angustias" acaba sendo uma sugestão bem forte, principalmente porque ela é quem mais joga na cara da filha que ela é pecadora por querer estudar e viver fora "do caminho da igreja", resultando em uma garota solteira e livre para pecar, que nunca encontrará um marido.

"- Vejo que, para você, o que eu falo entra por um ouvido e sai pelo outro... Infeliz! Mas a vida logo vai golpear você, e triturar e esmagar! Garanto que aí vai se lembrar de mim... Ah! Queria ter matado você quando ainda era pequena para não deixá-la crescer assim! E nã me olhe com essa cara de espanto. Se que até agora você não fez nada de errado. Mas vai fazer, assim que eu for embora... Ah, se vai! Tenho certeza! Você não vai conseguir dominar seu corpo nem sua alma. Não vai não... Você não vai conseguir". (Fala de Angustias para Andrea)


Os temas abordados no livro são apresentados de forma "natural" por meio dos diálogos dos persoangens, como o machismo, as mulhere submissas, a desigualdade de gênero e a violência contra a mulher. 

Como um todo, a obra aparenta ser bastante simples, mas carrega uma carga muito pesada e nos passa um conteúdo bastante triste e difícil de aceitar nos dias de hoje. De certa forma, os sofrimentos da vida solitária de Andrea me lembrou também "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector (clique aqui). Andrea era uma vítima de uma sociedade machista e de um ambiente violento, tentando sobreviver da melhor maneira possível, por isso me fez relacionar à personagem Macabéa da Clarice.  Gostei bastante da leitura, mas foi uma leitura pesada por conta dos temas. É como se eu tivesse entrado na casa fantasmagórica com a protagonista e tivesse aguentado tudo aquilo com ela. 

E você, já leu ou ouviu falar de "Nada"? Comenta aí!

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