Resenha - Indícios Flutuantes

quinta-feira, junho 23, 2016



Título: Indícios Flutuantes
Autora: Marina Tsvetáieva
Nº de páginas: 208
Editora: Martins Fontes
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Avaliação: 



Sinopse:
A poética de Marina Tsvetáieva, uma das maiores poetas russas do século XX, cuja obra é considerada intensa e de difícil tradução, é recriada em toda a sua musicalidade e riqueza de signicados nesta edição bilíngüe (russo-português) composta de 61 poemas breves.


Resenha
Indícios Flutuantes é uma coletânea de poemas da poeta russa Marina Tsvetáieva organizada e traduzida por Aurora F. Bernardini. No começo do livro, temos uma apresentação mais teórica dele, no formato de tese de Aurora Bernardini. Esse livro foi publicado em 2006 e traz também 61 poemas da poeta russa que marcou muito o século XX. 

Marina Tsvetáieva casou muito cedo por ter ficado órfã muito cedo também. Ela viveu por 17 anos na França, Alemanha e Tchecoslováquia. Fugiu várias vezes por conta do nazismo e se suicidou em 1941. Ela teve duas filhas (uma morreu de fome no internato) e um filho. Ela escreveu muitos poemas para sua filha que morreu. 


Eu particularmente achei os poemas de Marina muito profundos, alguns realmente emocionantes. Selecionei os meus preferidos:

Não me verás - cinzenta
(poema dedicado à sua falecida filha)

Não me verás - cinzenta
Não te verei - crescer.
De olhos imóveis,
Lágrimas não se espremem.

Em toda a tua dor
Um rompimento - o pranto:
- Larga-me o braço!
Deixa-me o manto!

Da sem-paixão
Camafeu olho-de-pedra,
Não tardarei às portas -
Como tardam as mães:

(Com todo o pesar do sangue,
Dos joelhos, dos olhos -
Pela última vez
Terrestre!)

Não serei animal ferido que se
                                 arrasta. -

Não, bloco de pedra
Sairei da porta -
Da vida. - Para que
Verter lágrimas, 
Se é uma pedra arrancada
A teu peito!

Não é pedra! - Já
É o vasto manto
Da águia! E já está nos abismos
                  Azuis
Naquela cidade iluminada
Onde - não ousa
Levar o filho
A mãe. 

28 de junho de 1921. - Marina Tsvetaiéva



"Se a alma nasceu alada"

Se a alma nasceu alada -
Cabanas ou palácios, não são nada!
Gengis Khan, a Horda - o que são, no fundo?
Meus, há dois inimigos no mundo,
Dois gêmeos - indissoluvelmente amarrados:
A saciedade dos satisfeitos - e a fome dos esfomeados. 

18 de agosto de 1918. - Marina Tsvetaiéva



"Dissolvi num copo um punhado"

Dissolvi num copo um punhado
Para ti de cabelo queimado.
Para que não comas, não bebas,
Não cantes, não durmas.

Para que a juventude não te seja ardor,
Para que o açúcar perca seu dulçor,
Para que nas noites de amor
Da jovem esposa não sintas o calor.

Como meus cabelos de ouro
Se tornaram cinza opaca,
Assim teus anos de jovem
Se tornem inverno de prata.

Para que cegues - sintas dor,
Para que seques - feito uma flor,
Para que saias - festo um estertor.

3 de novembro de 1918. - Marina Tsvetaiéva


"Num mundo, onde cada"

Num mundo, onde cada
É curvo e sebento
Conheço alguém 
Como eu resistente.

Num mundo onde tantos
Tanto queremos,
Conheço alguém 
Como eu poderoso.

Num mundo onde todos -
Podridão e hera,
Conheço alguém
Como eu verdadeiro.

Tu.

3 de julho de 1924. - Marina Tsvetaiéva

Avaliei Indícios Flutuantes como excelente e favorito porque simplesmente me apaixonei pela poesia de Tsvetaiéva. Ela tem um jeito doce e amargo de dizer aquilo que precisa ser dito, ela usa a função poética de um modo original e é sutil e cuidadosa com as palavras. Apesar dos versos brancos (ausência de rimas), ela consegue transpassar a musicalidade e o ritmo da sua poesia de forma impecável. Eu amei o estilo agridoce e cuidadoso de Tsvetaiéva.

E você, já leu alguma coletânea de algum poeta russo? Se sim, qual poeta e o que você achou? Comenta aí!

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