Resenha - I-Juca-Pirama

quarta-feira, abril 05, 2017


Sinopse: Gonçalves Dias é um poeta romântico indianista. Sua poesia está voltada para a dor do selvagem, que se sente injustiçado pela colonização, es-poliado de seus bens e de sua cultura. A natu-reza aparece como elemento integrado ao sel-vagem, e este, por sua vez, é colocado como herói nacional, que defende o amor à pátria, retratando o Brasil como um país ferido pela colonização. Nesta antologia selecionada da obra poética do autor, está incluída a célebre “Canção do Exílio”.

Resenha

ATENÇÃO: Essa resenha contém spoilers!

I-Juca-Pirama é um poema (épico) indianista publicado por Gonçalves Dias em 1851. Este poema conta em 10 cantos a história do índio timbira de nome I-Juca-Pirama, que fora condenado à morte por meio de um ritual antropofágico. Esse ritual de antropofagia inclui escalpelar, matar o inimigo acertando-lhe um golpe do ibirapema (bastão de madeira feito e enfeitado para o ritual) na cabeça, retirar os braços e as pernas do cadáver e comê-lo.

Gonçalves Dias descreve muito bem os passos do ritual, mas como isso é feito com ritmo e nas métricas, para o leitor que não conhece os passos desses rituais de antropofagia, pode ser um pouco complicado de compreender o poema, sendo assim, recomendo a leitura dos trechos do livro "Viagem ao Brasil", de Hans Staden que falam sobre esse ritual indígena. Esse ritual antropofágico é repleto de simbologia para os índios, e isso precisa ser compreendido para que I-Juca-Pirama faça sentido.

Após a preparação para a morte, I-Juca-Pirama está devidamente amarrado pela muçurana (a corda que o prende pela cintura no ritual) e, quando o índio que irá matá-lo pede que ele diga porque está com cara de choro (chorar durante o ritual era sinal de extrema fraqueza, fazendo até mesmo com que os índios inimigos não quisessem mais comer o índio amarrado). I-Juca-Pirama explica então que foi capturado por eles, enquanto caçava comida para o seu pai cego, que o esperava na floresta desde que os timbiras foram vencidos e eles conseguiram fugir. Ele disse que estava pensando em seu pai, que ainda devia estar esperando por ele, mas ele nunca voltaria com a comida.

O índio que iria matá-lo, o solta e diz para ele ir correndo para o seu pai, mesmo não acreditando sinceramente na história de I-Juca. O herói volta para o seu pai, mas o seu pai percebe que ele demorou e que o sol já baixou, e quando ele passa as mãos pela cabeça do filho e sente que ele foi escalpelado, I-Juca-Pirama confessa que havia sido capturado, mas que fora solto. Seu pai fica extremamente decepcionado, como pode um filho dele fugir desse jeito como um covarde e não encarar a sua morte honrosa como deve ser? 

Eis a parte mais insana do poema, o pai exige que o filho volte à aldeia inimiga e se entregue, porque esse tipo de coisa o filho dele não vai fazer. O pai leva o filho até lá, mas I-Juca-Pirama perde o controle e acaba lutando contra muitos índios inimigos. O índio que ia matá-lo pede que os outros índios parem de bater nele. I-Juca-Pirama vai arrastando-se até os braços de seu pai, e seu pai diz orgulhoso que é assim que um filho dele deve agir, e não fugir. (mais ou menos dessa forma).

Avaliei esse poema como excelente justamente por essas reviravoltas inesperadas que acontecem no desfecho da história. Pode até parecer difícil de entender o que está acontecendo no início do poema, mas basta ler com calma e ter um conhecimento prévio sobre o ritual antropofágico e tudo fará sentido. Gonçalves Dias com certeza leu a obra de Hans Staden e fez um excelente trabalho com o herói I-Juca-Pirama, encerrando o poema com uma tragédia, exatamente como deve ser em um poema épico, ainda que o autor seja do movimento romântico.

E você, já leu I-Juca-Pirama? Sim? Não? Se sim, gostou? Comenta aí!

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