Resenha [conto] - Amor, de Clarice Lispector

quarta-feira, setembro 12, 2018


Olá, pessoas interessantes! Essa é apenas uma observação, porque nas próximas semanas postarei as resenhas (na verdade anotações que fiz após realizar a leitura) de alguns contos da Clarice Lispector. São contos aleatórios, afinal, foram solicitados pela matéria de Literatura Brasileira e, como eu já tinha minha anotações, resolvi compartilhar com vocês, deem uma chance para a tia Clarice e vamos pirar com ela.


Ana é uma mulher de classe média que dedica a sua vida à família. Ela é uma dona de casa e tenta cuidar impecavelmente dos filhos, do marido e da casa. Sua vida é totalmente limitada a tais tarefas.

Certo dia, pega o bonde e vê no ponto um homem cego mascando chicles, isso foi chocante para ela, afinal, ele era cego e mascava aquilo como se não tivesse preocupações, ele não via o mundo.

O bonde dá uma freada brusca e os ovos que Ana havia comprado se quebram, deixando as gemas amareladas escorrerem. Nesse momento, pode-se dizer que os ovos representam a vida de Ana, pois a partir desse momento, ela se liberta do seu comodismo e começa a ver o mundo: uma mulher de azul ao seu lado que tem um rosto, um casal de mãos dadas, uma mãe empurrando o filho. Ela abre os olhos, e acaba perdendo o ponto de descida.

Acaba saltando do ônibus em um lugar completamente diferente. Ela se sente perdida, mas decide seguir o cego até o Jardim Botânico. Lá, ela se depara com a sutileza das plantas, a naturalidade de uma aranha assassina e a beleza da natureza. Ana sente pena do cego, ela vê o mundo e vê o quão horrível e belo ele pode ser.

"Ela amava o mundo, amava o que fora criado - amava com nojo".

Ela pensa que gostaria muito de fazer algo para ajudar pobres, cegos, debilitados, mas ao mesmo tempo há a impotência. Ana finalmente abriu os olhos para o mundo e despertou de seu sonambulismo automático. Assim como os ovos que quebraram e escorreram, Ana também quebrou sua casca e escorreu, libertando-se para o mundo.

Esse conto é simples e genial, tratando o comodismo nosso de cada dia como algo que precisa ser rompido, pois só assim seremos capazes de enxergar o que nos cerca. Ao mesmo tempo que amamos o mundo e estar vivos, também o odiamos e isso é fato. Ainda assim, como Ana, na maioria das vezes damos preferência ao amor. A simbologia do ovo me lembrou uma citação famosíssima de Demian, romance de Hermann Hesse:

"A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo. A ave voa para Deus. E o deus se chama Abraxas".

Para despertar para a vida, precisamos destruir a vida anterior que levávamos, ou seja, o mundo que tínhamos antes (nossa casca). Vale a pena ler esse conto, mas precisa ser uma leitura cuidadosa, justamente para compreender de modo profundo cada uma de suas passagens que só aparentam simplicidade, mas que são surpreendentemente complexas.

Esse foi o primeiro conto que li da Clarice Lispector. Eu já li o romance A hora da estrela (resenha aqui) e gostei muito. Estou com grandes expectativas para o estudo dos próximos contos e para ter meu cérebro explodido pela genialidade dessa mulher!

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