Resenha [conto] - Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector

quarta-feira, setembro 19, 2018


Devoradores de livros vão entender a angústia da protagonista (sem nome) desse conto. A menina que sofria provocações na escola e que odiava a protagonista e suas amiguinhas, era a filha de um dono de livraria e, certo dia, ela consegue o livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

A protagonista fica obsecada e pede o livro emprestado para a dona do livro. Esta, por sua vez, diz que basta a menina ir à casa dela buscar. E ela vai, todos os dias, mas a dona do livro sempre arranja uma desculpa e diz que já o emprestou para outra menina.

A ansiedade, a angústia é a esperança de que naquele dia ela conseguiria pegar o livro era quase torturante e esses sentimentos só cresciam conforme os dias passavam. A outra sentia prazer em vê-la sofrer e manteria essa maldade por mais tempo, se não fosse por sua mãe que viu e lhe ordenou que desse o livro à menina.

Nossa protagonista fica tão feliz ao pegar o livro e levá-lo para casa, que decide exercer poder sobre aquilo que havia tido poder sobre ela. Acaba deixando o livro de lado e apreciando-o brevemente de propósito. Agora era ela quem mandava naquilo que sempre quis ter. Ela tinha em mãos uma felicidade clandestina.

Ao final, ela diz que não era mais a menina com o livro, era uma mulher com seu amante. Esse tema da chegada da maturidade é algo que permeia os contos da coletânea Felicidade Clandestina, e nesse conto o "eclodir do ovo" fica bem claro nas duas últimas frases.

Clarice tranformou algo tão simples e infantil, em algo genial e que tem um desfecho totalmente inesperado. Gostei muito desse conto, sinto que a autora conseguiu por em palavras, algo que todos nós temos, mas que não somos capazes de expressar, afinal, todos temos nossas felicidades clandestinas.

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