Resenha - Poemas para almas solitárias + entrevista com o autor

segunda-feira, novembro 11, 2019


Poemas para Almas Solitárias é uma antologia de poemas escrita por Luis H. Kulik, e publicado em 2019 na Amazon. Os poemas tratam dos mais variados temas, não seguem métricas e adotam um estilo livre e desprendido até mesmo de estrofes.


O livro não é para qualquer um, talvez seja até uma espécie diferenciada de solitários. De cara, alguns poemas podem parecer confusos, por conta das escolhas e encaixes de algumas palavras mais complexas, bem como pelas referências gregas e políticas. Isso pode causar um impedimento para alguns leitores, por isso volto a ressaltar: não é para qualquer um compreender.

Além disso, para adentrar na essência desses poemas, você deve ser um leitor um tanto quanto aleatório, pois os poemas não seguem o mesmo estilo. A linguagem varia de acordo com a temática do poema: os que são de amor são bastante simples e desprendidos de enfeites, já outros, são bastante enfeitados. 

Ler Poemas para Almas Solitárias é literalmente como nadar, dando mergulhos mais profundos e voltando para a superfície várias vezes. Abaixo estão alguns poemas que gostei bastante:

DESENCONTROS
Ele disse que dessa vez viria
Ela acreditou dizendo: - "Quem diria”.
Na próxima ele tentou
Ela o esperou
Em vão.
Disse que tudo bem, sem nunca um
Não.
Em uma ele só se atrasou
E ela?
Gostou.
Na penúltima ele veio em ponto
E ela contou tudo.
Na última ele chorou
Ela também o faria, mas
Por mais que dissesse: "Não é nada
Vamos lá! "Sorria." – Ele não a ouviria.
Estava morta, de que importaria? – Ele
Se perguntava.
Nada mais adiantava.
E nem atrasava.


ENTROPIA
Tudo uma hora se rende
A ordem ao caos – Inevitável;
A luz à escuridão – Inerente;
A areia à maré – Imanente;
Os planetas ao Sol – Dependente;
O liso ao enrolado – Intrínseco;
O são à loucura – Só isso;
O neutro ao doce - Atinente
O pé ao chão – subjetivo;
Tudo uma hora se rende
De forma peculiar, diferente

Tudo uma hora se rende
Como eu me rendo a você...
...E você a ele.
Por quê?

PEÇAS
Se fosse um quebra-cabeça
Tantas peças faltariam
A ponto de formar um buraco
Do seu tamanho.
Estranho como algo tão você
Me completa.


PRÉ-SAL
Todas essas carreiras dos sonhos
Sugadas por um nariz trancado
Trincado pelo pó de coral
Adormecendo e entorpecendo
Um cérebro anzol com ideias
Peixe-palhaço.


SOLIDÃO
Frio tão frio
Congelando o pouco que resta
Amaldiçoando até mesmo Deus
Pois ele se detesta
Ódio é muito pouco para se aquecer
O calor se foi há muito
Tudo o que resta é frívolo
Sem tom,
Sem dor
Sem amor
Não há vida
Só existência,
Conveniência,
Sobrevivência.
Nesse estado não lhe resta
Nem um pouco de decência
O Sol se vira para o outro lado
As margaridas murcham
O leite coalha
Enxaquecas vêm aos montes
Poderia ser com outro
Amaldiçoa o vento senil
Frio tão frio.


Aproveitei que conheço o autor e fiz algumas perguntas sobre a obra:


1. Quando você percebeu que levava jeito para escrever poemas?
R: Eu acho que nunca levei exatamente um jeito. O primeiro poema que eu escrevi foi "Arte para Todos" na primeira página de um cadeno de desenho, e depois disso fiquei sem escrever nada por dois anos. Eu imaginava aue tinha escrito quatro versos, mas nunca tinha olhado para ele como um poema. Minha segunda tentativa foi um poema sobre a simbologia das maçãs no terceiro ano do ensino médio. Esse eu perdi no dia seguinte, e lembro de ter feito para minha melhor amiga, que hoje é minha namorada. Ela tem um Blog, "Hálito de Poesia", e depois de ler todos os poemas no mínimo umas duas vezes, achei que seria legal fazer um poema sobre algo que me deixava bem intrigado na época. O terceiro foi "Drogai-me por Osmose, Morrerei de Overdose", que está disponível somente no Wattpad. Eu tive um insight enquanto assistia "Macbeth", e depois comecei a tentar escrever poemas diariamente. Em três semanas tinha três poemas, e foram os três primeiros que postei quando criei a página. Eu demorei muito para entender o meu método de escrita. Por diversas vezes confundi com bloqueio criativo. Hoje escrevo poemas muito mais rápido, e aprecio muito o resultado.  Eu basicamente penso em uma frase, em seguida busco o que posso querer dizer com aquilo. Um exemplo é o poema "7,50;7,75; Tanto Faz" que lembro de imaginar a frase "Queimando-me até as cinzas /Não sou nenhuma fênix." pulando na minha cabeça sem aviso em um ônibus lotado. Hoje eu entendo que é assim. Minhas maiores influências foram o livro "As Pessoas parecem Flores Finalmente", de Charles Bukowski, " O Corvo", de Edgar Alan Poe, e " O Dia que os Saucers Vieram", de Neil Gaiman

2. O que te inspirou a escrever os poemas românticos?
R: A minha maior inspiração é o poema "Eloísa para Abelarso", de Alexander Pope. "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" é o meu filme favorito, e a ideia de escrever algo sobre um amor tão intenso e contagiante me guia em poemas como "Flores" e "Estes Olhos".
Sempre encarei o Amor como um conceito muito aberto, e falar sobre ele sempre é algo de imenso prazer.

3. O que te inspirou a escrever os poemas de teor político?
R: Minha inspiração são as bandas punks, como "Ramones", "Sex Pistols", "Green Day". Eu vi na música como uma "poesia otimizada". As letras são poemas, e com um ritmo elas alcançam muito mais pessoas que não costumam ler, ou até não conseguem. A política foi um assunto que tive muita dúvida se deveria ou não escrever sobre. Desde a infância eu ouvia a famosa frase que " política não se fala", e depois de duas décadas de ignorância comecei a estudar sobre o assunto. Em períodos históricos semelhantes sempre houve a facilidade da manipulação, tanto do povo pelos governantes, como revoluções vazias que tomaram rumos inesperados. Escrever, ler, e falar sobre política, com fundamento e respeito deveria ser um dever civil.

4. Como surgiu a ideia para título Poemas para Almas Solitárias?
R: Eu tive a ideia do nome da maneira como interpreto a produção e o consumo literário. Por mais que leia algumas coisas com outras pessoas, ler não perde a sensação de ser uma atividade solitária. Você sempre estará limitado pela sua compreensão até que outra pessoa diga a dela, mas o que você sente enquanto lê sempre será único. Escrever também, por mais que sempre peça para minha namorada ler antes de eu postar em qualquer lugar.

5. Pretende publicar mais antologias?
R: Com certeza. A experiência foi maravilhosa, e ver meu trabalho alcançando outras pessoas fora do meu círculo pessoal é mágico. A Amazon abriu uma porta no mercado, e para quem está começando, um contrato com uma editora ainda é algo bem complicado. Consegui reunir duas amigas incríveis que fizeram a parte da ilustração da capa e toda a edição do texto. Sem elas o livro não teria acontecido.

6. O que te inspirou a escrever os poemas de teor religioso?
R: Eu fui criado em um lar católico. A medida que pude amadurecer larguei mão de ir na igreja e desenvolver minha própria manifestação de espiritualidade.  Acredito que Jesus é uma figura mítica, como Hércules. Eles até seguem a mesma estrutura de storytelling. E Deus é um conceito fascinante abordado na filosofia. Só que são infinitas as formas que cada um pode enxergar a Divindade. Acho que quando falo de Religião tento trazer novas perspectivas a esses mitos, como "Paraíso Perdido", de Milton trouxe sobre a parte da Criação e Adão e Eva.

7. Você tem alguma rede social para que os leitores possam acompanhar os seus trabalhos?
R: Eu tenho as Páginas"Poemas para Almas Solitárias", e Artes Visuais para Almas Solitárias", no Facebook. Ultimamente estou postando Crônicas e desenhos no meu Instagram @Luis_H_Kulik.

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