Resenha - Um artista do mundo flutuante

segunda-feira, novembro 04, 2019


Um Artista do Mundo Flutuante é um romance de Kazuo Ishiguro, vencedor do Prêmio Novel da Literatura. A obra é protagonizada por Ono, um pintor japonês "rebelde" durante a Segunda Guerra Mundial, enfrentando as autoridades do governo imperial. 

Título: Um artista do mundo flutuante
Autor: Kazuo Ishiguro
Ano de publicação: 2018
Número de páginas: 232
Editora: Companhia das Letras
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Um romance sensível e comovente do vencedor do prêmio Nobel, ambientado no Japão após a Segunda Guerra Mundial.Masuji Ono, protagonista e narrador deste primoroso romance do vencedor do prêmio Nobel de literatura, é um homem de seu tempo. Pintor de grande renome do Japão antes e durante a Segunda Guerra Mundial, ainda jovem Masuji desafiou o pai para seguir a vocação artística e, durante seu desenvolvimento criativo, lutou contra as amarras da arte tradicional japonesa para dar lugar a uma produção propagandística a serviço de seu país. Usando a influência de que gozava perante as autoridades do governo imperial, Ono buscava ajudar pessoas de bem em situações menos favorecidas do que a sua.
Ambientado nos anos imediatamente após a rendição, o romance descortina a vida de Masuji já aposentado, procurando entender as mudanças vividas pelo país e impressas na mentalidade da geração mais jovem, da qual fazem parte suas duas filhas. Ao procurar entender por que as negociações para o casamento da mais nova delas foram abruptamente interrompidas, o protagonista se vê levado a rememorar sua vida de artista e professor respeitado e a enfrentar a consequência dos próprios atos no destino de seus descendentes.Retrato comovente de um momento histórico cujos desdobramentos se veem até os dias de hoje, Um artista do mundo flutuante é também um poderoso romance sobre a velhice, a culpa e a passagem do tempo.
"Há muitos bons escritores, mas poucos bons romancistas. Kazuo Ishiguro pertence a este escasso grupo. Seu segundo romance, Um artista do mundo flutuante, é do tipo que aprofunda a consciência do leitor, ensinando-o a ler mais sensivelmente." - The New York Times Book Review.

A história tem como narrador-protagonista, Masuji Ono, um homem já idoso e aposentado, mas que foi um pintor reconhecido por suas pinturas de teor de propagandas, durante a Segunda Guerra Mundial. O enredo tem um fluxo leve e, conforme o passar das páginas, vamos conhecendo mais a personalidade do protagonista, o passado dele, suas filhas e seu neto.

Inclusive, as interações de Ono com Ichiro, seu netinho, são extremamente interessantes, principalmente pelo fato de Ono ser um senhor de idade e ter uma visão um tanto quanto machista  demais para a atualidade. Esse aspecto reflete nos ensinamentos que ele tenta passar para o neto, falando de suas filhas e de coisas que só eles, enquanto homens, podem fazer. De certa forma, ele desmerece as mulheres e demonstra o seu ponto de vista enquanto pessoa pertencente de sua geração.

A abordagem cultural japonesa também se mostra forte, somada ao conservadorismo e tradicionalismo japonês, uma vez que podemos acompanhar, durante o desenrolar da história, o casamento arranjado para a filha mais nova de Ono: os jantares com a família no noivo, a escolha dos pretendentes e o fato de o neto dele ter vindo do casamento arranjado da filha mais velha.

Além disso, Ono reflete bastante sobre os impactos que a guerra e o fim da guerra tiveram em seu país. Como o evento afetou alguns bairros que ele costumava frequentar antigamente e quais impressões deixaram para a juventude atual. O personagem passa a impressão de sentir culpa, principalmente porque desde sua infância, seu pai reprovava a ideia do filho se tornar um pintor. Ono, na verdade, nada mais fez do que tentar defender os menos favorecidos naquela época.

O modo como Kazuo Ishiguro conduz o enredo, sob os olhos de um idoso que contribuiu para um evento muito importante, é impressionante. De um lado, temos um senhor que vive dias tranquilos e sem tarefas, mas que relembra o passado vividamente. Do outro lado, temos um homem que participou de momentos conturbadíssimos e que todos os dias cravava nas memórias os efeitos que a guerra tinha em seu povo. Por isso Ono é um artista em um mundo flutuante. O tempo flutua sempre, mas a arte, se importante, afetará e perdurará flutuando por gerações.

E você, já leu alguma obra de Kazuo Ishiguro?

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2 comentários

  1. Não li ainda o autor, mas tenho muito interesse na obra "Os Vestígios do Dia" - especialmente após assistir ao filme. Cada vez sinto mais vontade de conhecê-lo!

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