Resenha - Canções de Inocência e Canções de Experiência

domingo, dezembro 10, 2017


Canções de Inocência e Canções de Experiência foi publicado em 1789, e é a maior obra de William Blake, um autor inglês que só teve reconhecimento postumamente. A obra surgiu em duas fases,  o Canções de Inocência foi publicado primeiro, e depois juntado com o Canções de Experiência e publicado novamente. Além dos poemas extremamente profundos, as ilustrações do autor complementam os escritos, trazendo mais significados e informações para a compreensão dos poemas.


Título: Canções de Inocência e Canções de Experiência
Autor: William Blake
Ano: 2005
Nº de páginas: 67
Editora: Lido em PDF
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: As Canções da Inocência e as Canções da Experiência de William Blake exibem um contraste entre o mundo inocente e pastoral e o mundo adulto da corrupção e repressão. Neste livro encontra-se parte dos trabalhos de Blake, em edição bilíngue. São vozes mescladas de inocência e pecado, vindas lá do pré-romantismo inglês, que ganham uma versão muito particular em nossa língua: o primeiro, pairando solto no tempo na voz de Blake; o segundo, ouvido e transposto para nosso idiona nas vozes de Gilberto Sorbini e Weimar de Carvalho.

As Canções de Inocência falam de religião, espiritualidade e a alegria de ser uma criança inocente, sem preocupações. As Canções de Experiência, criticam a sociedade e seus costumes religiosos, os absurdos permitidos na época, a virgindade, o Leão de Judá (Jesus), a dura realidade do mundo adulto e muitos outros temas variados. Apesar de parecem opostos, a primeira e a segunda parte se completam.


O MENININHO NEGRO

Minha mãe me gerou lá numa austral devesa,
E sou negro, mas - oh! - sei que minha alma é
clara. Clarinha como um anjo é uma criança
inglesa:
Mas negro sou, como se a luz não me tocara.


À sombra de um baobá minha mãe me educou
E sentada comigo ante o calor do dia.
Tomou-me certa vez ao colo e me beijou,
E indicando o nascente eis o que me dizia.


Olha o nascer dosol: lá Deus tem sua casa
De lá nos manda a luz e envia Seu calor,
Que a árvore e a flor e a fera e o homem tudo abrasa
Confortando a manhã alegrando o sol-pôr.


Nosso tempo na terra é só uma curta
estada. Para aprender a suportar o amor
radioso.
E este corpo tão negro e esta face queimada
É uma nuvem somente, e um bosque penumbroso.


Quando tiver nossa alma esse ensino
aprendido A nuvem se esvairá e uma voz há
de soar. Dizendo: o bosque abandonai gado
querido.
E vinde em torno à Minha tenda festejar.

Minha mãe disse assim e me beijou a
face. E ao menininho inglês assim
também falei.
Que quando a nuvem negra e a nuvem branca
passe, E em torno à tenda se ajuntar a sua grei,


Vou guardá-lo do sol que ele há de suportar
Quando feliz ao pé de nosso pai ajoelhe.
Quando ao seu lado as alvas mechas lhe
afagar, E ele então me amará e eu serei
como ele.
- Canções da Inocência

Quando comecei a ler as Canções, parecem realmente poemas simples e fáceis de compreender, mas pelo contrário, se você parar para ler ao menos duas vezes, verá que terá de ler mais dez para entender exatamente o que o autor quis passar. Os poemas são extremamente geniais e trazem mensagens show, don't tell (um dia faço um post só explicando sobre essa técnica), então a leitura dos mesmos deve ser cuidadosa e, ainda assim, é possível que você não chegue a uma conclusão concreta e verdadeira, porque de tudo o que é apontado por Blake nessa obra, não existe uma forma de saber sobre a veracidade, sobre o que ele quis dizer, a menos que ele realmente estivesse aqui para explicar.

O ESCOLAR

É bom sair de
manhãzinha,
Ouvindo as aves a cantar
E ao longe a trombeta de caça
E ver a cotovia no ar
Que cedo vem me acompanhar.


Mas ir à escola de manhã,
Como destrói minha alegria;
Sob um olhar cruel, aceso,
Passam os novos todo dia
Em desgosto e melancolia.


Passar às vezes longo tempo
Sentado, ouvindo, aborrecido,
Indiferente à sala de aula
E indiferente ao livro lido
E ao quadro-negro tão comprido.


Como háde uma ave que nasceu
Para a alegria achar prazer
Numa gaiola, ou uma criança,
Baixando as asas, esquecer
Que é tempo só de florescer?


Ó pai, ó mãe, se for cortada
Logo em botão a jovem flor
E a planta nova desbastada
De seus brotos e seu vigor
Pelo desgosto e pela dor.


Como há de o tépido verão
Ter no prazer o seu momento?
Como na dor colher o fruto
Que nos trouxe o florescimento,
Quando chegar o inverno e o vento?
- Canções da Experiência

O mais engraçado e, ainda mais problematizador (e incrível) é que Blake era ateu. Mesmo assim, ele traz muita espiritualidade para a obra e, há boatos de que quando ele era criança, podia ver espíritos. Isso não influenciou em suas ideologias no futuro, mas ele retrata essa espiritualidade na obra de uma forma tão especial, que é quase impossível de acreditar que o autor não tinha crenças.

É claro que não devemos esquecer da importância das ilustrações de Blake, pois elas sempre complementam a interpretação do poema de inúmeras formas.



No site The William Black Archive você pode conferir TODAS as ilustrações dele em alta qualidade.
Postei os 10 melhores poemas da obra no Recorte Lírico, para conferir a postagem, basta clicar AQUI!

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