Resenha - Festa no Covil
quinta-feira, setembro 24, 2020
Festa no Covil, do autor mexicano Juan Pablo Villalobos, foi publicado no Brasil em 2012, pela editora Companhia das Letras. O romance é narrado pelo pequeno Tochtli, que vive em um ambiente peculiar e cercado de perigos, mas ao mesmo tempo, cheio de imaginação.
Título: Festa no CovilAutor: Juan Pablo VillalobosAno: 2012Nº de páginas: 96Editora: Companhia das LetrasAvaliação: ★★★★★Sinopse: O romance de estreia de Juan Pablo Villalobos é surpreendente em muitos sentidos. Breve e incisivo ao revelar a face mais violenta da realidade (não apenas) mexicana sob uma ótica insólita, entra no cânone da narcoliteratura sem ceder aos tiques próprios do subgênero. Em Festa no Covil, a vida íntima de um poderoso chefe do narcotráfico, Yolcault, ou "El Rey" é narrada pelo filho. Garoto de idade indefinida, curioso e inteligente, o pequeno herói, que vive trancado num "palácio" sem saber a verdade sobre o pai, reconta sem filtros morais o que presencia ou conhece pela boca dos empregados ou pela tevê. Seu passatempo é investigar secretamente os mistérios que entrevê, colecionar chapéus e palavras difíceis e pesquisar sobre samurais, reis da França e animais em extinção, sempre com o auxílio de seu preceptor, um escritor fracassado egresso da esquerda.
Tochtli é um garotinho que vive em um castelo (na verdade é uma fortaleza, já que seu pai é um dos reis do narcotráfico. Por conta disso, o menino é chamado de príncipe e, seu pai, Youcault, é o rei "El rey". A história é toda narrada pela criança, então podemos acompanhar de perto o que ele sabe e o que não sabe dos negócios do pai e do mundo, já que ele vive em um lugar isolado, estuda em casa e conhece apenas quatorze ou quinze pessoas, tudo para que ele fique protegido.
Tochtli possui uma grande coleção de chapéus e eles servem como fantasias e papéis que ele gosta de adotar: detetive, aventureiro de safari, cowboy, samurai e muitos outros. O menino é realmente curioso e vai descobrindo quartos abarrotados de armas, observa atentamente os convidados que o pai dele recebe para jantar e sabe dos cadáveres, do jeito de certo de matar uma pessoa para torná-la em um cadáver e até chega a pegar uma arma escondido para si.
A parte interessante é que, na obra, mesmo que toda essa parte seja muito pesada, é apresentada de forma natural pelo protagonista, já que ele mesmo não tem noção de como tais informações são pesadas para pessoas "normais". O pai do menino gosta muito dele e dá tudo o que ele quer, por isso mesmo eles até chegam a viajar para a Libéria, pois Toch colocou na cabeça que queria dois hipopótamos anões da Libéria.
Gostei muito do livro e, apesar de todo o cenário e alguns acontecimentos serem pesados, muitos momentos são engraçados e é sensacional ter essa história pela perspectiva infantil, mas não pense que só por conta disso o livro não possui reflexões interessantes, seguem algumas que separei:
"Algumas pessoas dizem que eu sou precoce. Dizem isso principalmente porque pensam que sou pequeno para saber palavras difíceis. Algumas das palavras difíceis que sei são: sórdido, nefasto, pulcro, patético e fulminante. Na verdade não são muitas as pessoas que dizem que sou precoce. O problema é que não conheço muita gente." (p. 9)
"Os realistas são pessoas que acham que a realidade não é assim, como você pensa que é." (p. 11)
"O Youcault diz que os cultos são pessoas muito metidas porque sabem muitas coisas. Sabem coisas das ciências naturais, como que as pombas transmitem doenças nojentas. Também sabem coisas da história, como que os franceses gostam muito de cortar a cabeça dos reis. Por isso os cultos gostam de ser professores. Às vezes eles sabem coisas erradas, como que pra escrever um livro você tem que ir morar numa cabana no meio do nada e no alto de um morro. Que diz isso é o Youcault, que os cultos sabem muitas coisas dos livros, mas não sabem nada da vida." (p. 13)
Esse é o primeiro livro de um autor mexicano que eu leio. E você, já leu algo da literatura mexicana? Gostaria de ler? Comenta aí!
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