Resenha [conto] - Perdoando Deus, de Clarice Lispector

quarta-feira, outubro 17, 2018


Você já teve um momento de felicidade, quando tudo parece finalmente se encaixar e, de repente, algo totalmente inusitado acontece e estraga esse sentimento? Bem, o conto Perdoando Deus é sobre como essas coisas da vida podem nos despertar o reconhecimento.

A protagonista (sem nome) estava andando por Copacabana e se sente tão conectada com o mundo, que é capaz de dizer que se sentia a Terra, a Natureza, a mãe de Deus. Ela começa a descrever esse sentimento novo e, então, ela pisa em um rato morto.

Após o horror, ela se pergunta porque em um momento Deus permite que ela sinta a beleza do mundo, e depois mostre a coisa mais terrível para ela, que era o rato. A partir de um fluxo psicológico intenso, vamos afundando nos segredos e inseguranças de uma personagem que se sente injustiçada, mas que no fim, tem um reconhecimento incrível.

A autora faz a personagem perceber que o problema não é Deus ou o rato, mas sim ela mesma. Ela possui um conflito interno tão enraizado que a cegou completamente. E aquele rato, aquela quebra de expectativa a faz acordar e ver os problemas dentro dela.

Essa personagem descreve como tentava se encaixar no mundo que lhe foi imposto, achando que amar não envolve dar de cara com um rato morto de vez em quando, então ela percebe que não poderá ter controle sobre a própria vida, enquanto achar que é uma pessoa ruim porque Deus é bom, ou enquanto não aceitar o rato e vencer seu medo, afinal, o mundo também é rato.

Surge então, a necessidade de amor próprio: "Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza?". Ou seja, ela nem se conhecia por inteiro e já queria se espelhar em Deus, o seu contrário, e odiar o rato. O conto finaliza com a incrível frase: "Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe", ou seja, não podemos dizer o que é bom ou ruim se nem conhemos a nós mesmos.

Clarice é isso, algo do cotidiano que te levará a uma viagem de fluxo de consciência mindblowing. É impossível ler os contos e não ser aqueles personagens por certo momento. Leiam Clarice Lispector, hoje.

Você também poderá gostar de

1 comentários

"Comento, logo existo."