Resenha - O Apanhador no Campo de Centeio

quarta-feira, outubro 03, 2018


O Apanhador no Campo de Centeio é um clássico da literatura norte americana, escrito por J. D. Salinger e publicado como livro em 1951. O romance narra três dias da vida de Holden Caulfield, um garoto rico de Nova Iorque, porém cheio de questionamentos internos.


Título: O apanhador no campo de centeio
Autor: J. D. Salinger
Ano: 1999
N° de páginas: 207
Editora: Lido em .mobi
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: À espera no centeio (O Apanhador no Campo de Centeio na edição brasileira) narra um fim de semana na vida de Holden Caulfield, jovem de 16 anos vindo de uma família abastada de Nova York. Holden, estudante de um reputado internato para rapazes, volta para casa mais cedo no inverno depois de ter recebido más notas em quase todas as matérias e ter sido expulso.
No regresso a casa, decide fazer um périplo adiando assim o confronto com a família. Holden vai refletindo sobre a sua curta vida, repassa sua peculiar visão de mundo e tenta definir alguma diretriz para seu futuro. Antes de enfrentar os pais, procura algumas pessoas importantes para si (um professor, uma antiga namorada, a sua irmãzinha) e tenta explicar-lhes a confusão que passa pela sua cabeça.
Foi este livro que criou a cultura jovem, pois na época em que foi escrito, a adolescência era apenas considerada uma passagem entre a juventude e a fase adulta, que não tinha importância. Mas esse livro mostrou o valor da adolescência, mostrando como os adolescentes pensam.

Holden Caulfield é um menino de 14 anos, rico e que mora em Nova Iorque. No livro, ele narra três dias da vida dele antes da noite de Natal.

No início da história, ele acabara de ser expulso (mais uma vez) do colégio interno em que estudava. Ele não queria que seus pais soubessem, portanto, enrola alguns dias na cidade antes de finalmente ir para casa. O enredo do livro é muito simples (bem como sua linguagem), sendo o Holden o diferencial, pois é um dos protagonistas mais complexos e bem construídos que eu já li. Além de ser um mentiroso nato por meio da narrativa em primeira pessoa, acompanhamos seus pensamentos, sentimentos, planos e, obviamente, podemos perceber a infantilidade em suas ações, a vontade de ser alguém e a depressão.

Holden é muito pressionado pela família e pela sociedade em relação ao futuro, e ele não compreende porque os estudos são importantes. Somado a isso, também está o fato de que ele é deprimido e não gosta de ninguém, somente das crianças, como sua irmã caçula. Inclusive, é em um diálogo entre os dois, que ele explica porque se denomina como o apanhador no campo de centeio. Essa cena é simplesmente deslumbrante e desconsertante. Não vou dar spoiler, mas se você quiser ler a explicação, deixarei o trecho ao final da resenha.

A obra critica a alta burguesia de Nova Iorque, o mesmo que Fitzgerald faz com "O retrato de Dorian Gray", livro muito citado por Holden, inclusive. O apanhador é o tipo de livro que ou você ama, ou você odeia. Posso dizer que amei, pois o Holden me cativou muito, e confesso que fiquei espantada com a semelhança da personalidade dele com a de Henrique, o protagonista do meu livro. Ele vê problema em tudo, mas ao mesmo tempo não se importa com nada, tanto que não consegue adquirir o gosto íntimo pelas coisas, embora tenha muitas dúvidas sobre o sentido da vida. Senti-me muito próxima dele durante a leitura, e o achei muito engraçado em certos aspectos. Se quem leu o meu livro, ler O apanhador no campo de centeio, vai notar que os protagonistas são realmente parecidos, mas eu posso jurar que nem sonhava com essa obra quando escrevi. Nesse caso, fico feliz.

Assim como "Os sofrimentos do jovem Werther" (resenha aqui), a obra de Salinger também inspirou alguns crimes e ocasionou mortes na vida real:

"O Apanhador no campo de centeio, publicado em 1952, pelo recluso J. D. Salinger (1919 – 2010) é considerado um dos livros mais influentes de todos os tempos e teve entre seus leitores mais fervorosos os mais famosos assassinos da história recente.
O caso mais conhecido é o de Mark David Chapman, fã dos Beatles que matou John Lennon (1940 – 1980) após ter lido uma passagem que afirmava que o músico deveria ser assassinado. A interpretação de Chapman, que queria mudar seu nome para Holden Caulfield, personagem principal da obra, é de que a inocência de Lennon deveria ser preservada por meio de sua morte.
O assassino da atriz Rebecca Schaeffer (1967 – 1988) também era um fã confessor de Salinger. Robert John Bardo estava com uma cópia de O Apanhador no campo de centeio quando cometeu o crime – após perseguir a atriz por quase três anos. Segundo Bardo, ele não tentou imitar Chapman, que também estava com um exemplar, quando executou Lennon. Para o assassino, a maior influência para seu ato criminoso foi a música “Exit”, da banda irlandesa U2.
Quando o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, foi vítima de um atentado a tiros, em 1981, a polícia encontrou uma cópia de O Apanhador no campo de centeio no quarto do hotel em que John Hinckley, Jr, acusado do crime, estava".
Fonte: https://www.tribunapr.com.br/blogs/contracapa/voce-sabe-qual-e-o-livro-preferido-pelos-assassinos/ 

Trecho do livro (spoiler)

"- Você conhece aquela cantiga: "Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio"? Eu
queria...
- A cantiga é "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio"! - ela disse. - É dum poema do Robert Burns.
- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.
Mas ela tinha razão. É mesmo "Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio". Mas eu não sabia direito.
- Pensei que era "Se alguém agarra alguém" - falei. - Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.
A danada da Phoebe ficou calada um tempão. Aí, quando resolveu falar, foi para dizer: - Papai vai te
matar".  

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