Resenha - O melhor das comédias da vida privada

quarta-feira, agosto 14, 2019


Publicado pela primeira vez em 1994, O melhor das comédias da vida privada é uma antologia de crônicas INCRÍVEIS de Luis Fernando Verissimo. São várias histórias curtas (normalmente repetindo personagens) cheias de humor e críticas.

Título: O melhor das comédias da vida privada
Autor: Luis Fernando Verissimo
Ano: 2011
Nº de páginas: 315
Editora: Ponto de Leitura
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Pai, mãe, cunhado, o Maneco, a Regininha - ah, a Regininha... -, os amigos do penúltimo chope, a casa na serra, o lixo da vizinha, praia, férias. A grande família brasileira, de sunga, pijama ou smoking, na corda bamba de todo dia.
Para este volume, Luis Fernando Verissimo escolheu suas crônicas preferidas do livro Comédias da vida privada, que se tornou um clássico do humor brasileiro - dando origem à série de programas para a televisão. Aqui estão reunidos personagens inesquecíveis e histórias antológicas. Mestre da literatura contemporânea, Verissimo decifra e atualiza nossas comédias mais íntimas, percorrendo esse território lúbrico e impreciso da classe média - lugar de desejos bizarros e secretos.


Esse foi o primeiro livro de crônicas de Luis Fernando Verissimo que eu li, logo, posso afirmar que esse homem é realmente genial. São todas crônicas de duas a três páginas (extremamente curtas, já que o livro é pequeno), que te farão rir alto, baixo, gargalhar ou fechar a cara. Tudo envolve o comportamento humano em suas relações sociais, envolvendo casamento, namoro, família, divórcio e, ao final, textos existenciais questionando o sentido da vida.

Vi esse livrinho como uma grande análise que, por meio do riso, faz o leitor perceber como as coisas funcionam nos relacionamentos, como o ser humano lida com o ciúme, com a separação, a traição, o desejo, a expectativa... São crônicas engraçadas? Sim, muito! Entretanto, é fácil perceber que há algo maior por trás, afinal, são crônicas.

Como são muitos textos, eu decidi transcrever somente o último, porque achei que fechou a obra com chave de ouro e é um perfeito tapa na cara:

"Existe gente-casa e gente-apartamento. Não tem nada a ver com o tamanho: há pessoas pequenas que você sabe, só de olhar, que dentro têm dois pisos e escadaria, e pessoas grandes com um interior apertado, sala e quitinete. Também não tem nada a ver com carácter. Gente-casa não é necessariamente melhor do que gente-apartamento. A casa que alguns têm por dentro pode estar abandonada, a pessoa pode ser apenas uma fachada para uma armadilha ou um bordel. Já uma pessoa-apartamento pode ter um interior simples mas bem ajeitado e agradável. É muito melhor conviver com um dois quartos, sala, cozinha e dependências do que com um labirinto.

Algumas pessoas não são apenas casas. São mansões. Com sótão e porão e tudo que eles comportam, inclusive baús antigos, fantasmas e alguns ratos. É fascinante quando alguém que você não imaginava ser mais do que um apartamento com, vá lá, uma suíte, de repente se revela um sobrado com pátio interno, adega e solário. É sempre arriscado prejulgar: você pode começar um relacionamento com alguém pensando que é um quarto-e-sala conjugado e se descobrir perdido em corredores escuros, e quando abre uma porta, dá no quarto de uma tia louca.

Pensando bem, todo o mundo tem uma casa por dentro, ou no mínimo, bem lá no fundo um porão. Ninguém é simples. Tudo, afinal, é só a ponta de um iceberg (salvo ponta de iceberg, que pode ser outra coisa) e muitas vezes quem aparenta ser apenas uma cobertura funcional com qrt. sal. lavab. e coz. só está escondendo as suas masmorras."

E você, é gente-casa, ou gente-apartamento? Eu acho que não podemos julgar nunca.

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