Resenha - A Garota das Laranjas

quarta-feira, agosto 08, 2018



A Garota das Laranjas foi publicado no Brasil em 2014 e, mais uma vez, Jostein Gaarder me provocou sentimentos indescritíveis. Esse autor é simplesmente incrível, e eu já sei disso desde que li O Mundo de Sofia. A cada obra que leio dele, torno-me uma pessoa diferente, com um outro olhar sobre a vida e minha mortalidade.

Título: A Garota das LaranjasAutor: Jostein Gaarder
Ano: 2015
Nº de páginas: 132
Editora: Seguinte
Avaliação: ★★★★★ Sinopse: Numa carta de despedida escrita nos últimos dias de vida, um pai conta ao filho a história de sua busca por uma figura encantadora e enigmática que parece ter saído de um conto de fadas.
Uma carta que ficou guardada por muito tempo revela ao adolescente Georg Røed uma história extraordinária. O autor da carta é o pai do menino, morto há onze anos. Ele escreveu esta longa mensagem de despedida para que o garoto pudesse lê-la depois, quando estivesse mais maduro.
A história que o pai conta é do tempo em que ainda era um jovem estudante de medicina: a sua busca por uma moça desconhecida, que ele vê por acaso nas ruas de Oslo, sempre carregando um saco cheio de laranjas. Apaixonado, o rapaz persegue os diversos mistérios que cercam os seus encontros fugidios com a garota das laranjas, numa aventura que culmina numa grande revelação.

Quando Georg completou 15 anos, recebeu uma carta de seu pai que havia falecido quando ele ainda era criança. Os avós encontraram-na em um carrinho vermelho que pertencia ao menino e a entregaram para ele. Na grande carta, Jan Olav, pai de Georg, conta como conheceu a Garota das Laranjas e tenta discutir os segredos do universo.

A garota das laranjas aparece como uma garota misteriosa que ele encontra no ônibus e que carregava um saco enorme de laranjas. Para quê seriam aquelas laranjas? Um suco? Uma família inteira? Para alimentas as crianças do jardim de infância? Jan Olav cogitava todas as possibilidades e não conseguia tirá-la da cabeça. 

Depois de alguns encontros muito estranhos, os dois finalmente conseguem conversar. A garota das laranjas diz que gostaria de ficar com ele, mas para isso ele teria de esperar seis meses. O pai de Georg quase fica louco, formulando mil e uma teorias para tentar compreender aquela garota misteriosa. Entretanto, não demora muito até o leitor (você e o Georg) descobrir quem era ela.

A carta foi escrita por Jan Olav enquanto Georg ainda era uma criança de 3 anos. Como estava doente, ele deixava o garotinho na escola e, ao voltar para a casa, dava continuidade à carta para o filho. Sabendo que morreria logo, o pai do menino faz muitos questionamentos sobre a vida e o universo na carta, mostrando seus medos e lançando um desafio para o filho.

Jostein Gaarder me surpreendeu maravilhosamente outra vez. Eu não fazia ideia do que esperar de um livro com um título tão simples, mas foi muito mais do que eu poderia sequer ter suposto. O enredo é lindo, emocionante, intrigante e, claro, triste. Talvez você termine a leitura e se sinta um pouco perdido... Não por conta da obra, mas por conta do modo como o autor trata a vida. Somos todos iguais, todos com as mesmas inseguranças, querendo saber as mesmas coisas e, contudo, somos todos igualmente impotentes. Não somos nada, porém somos tudo.

Tenho pensado que essa mão que eu agora seguro, vou segurá-la até o fim, talvez num leito de hospital, talvez muitas horas seguidas, até que no fim tenha de desistir de tudo e tudo largar. A gente decidiu que é assim que vai ser, ela me prometeu. É bom pensar nisso. E é indescritivelmente triste pensar nisso. Quando eu largar este universo, vou largar uma mão cálida e viva, a da garota das laranjas.Imagine, Georg, se do outro lado também existisse uma mão que a gente pudesse segurar! Mas eu não acredito que exista outro lado. Disso eu tenho quase certeza. Tudo quanto existe é apenas passageiro, tudo chega ao fim. Mas, geralmente, a última coisa que a gente segura é uma mão. Eu escrevi que o riso é uma das coisas mais contagiosas que conheço. Mas a tristeza também contiagia. O medo é diferente. Ele não contagia tão fácil quanto a alegria e a tristeza, e é bom que seja assim. Com o medo, nós todos estamos quase sozinhos. Eu tenho medo, Georg. Medo de ser expulso desse mundo. Medo das noites como esta, em que já me será dado viver. (p. 106-107)

Não me venha dizer que a natureza não é um milagre. Não diga que o mundo não é um conto de fadas. Quem não percebeu isso, talvez só chegue a compreendê-lo quando a história já estiver chegando ao fim. Porque, então, nós temos uma derradeira possibilidade de tirar os antolhos, uma derradeira oportunidade de nos entregarmos a este milagre do qual temos de nos despedir, o qual temos de deixar.Será que você entende o que estou tentando exprimir, Georg? Ninguém se despede chorando da geometria euclidiana nem da tabela periódica dos átomos. Ninguém derrama uma lágrima que seja por estar se separando da internet ou da tabuada. É de um mundo que nos despedimos, é da vida, é do conto de fadas e da aventura. E, além disso, temos de nos despedir de um pequeno número de pessoas que realmente amamos. (p. 102)

Georg! Uma última pergunta ainda: posso mesmo ter certeza de que não há outra existência depois desta? Posso ficar convencido de que não estarei em algum lugar quando você ler esta carta? Não, certeza absoluta eu não posso ter. Pois, se o mundo existe, todos os limites da improbabilidade já foram ultrapassados. Entende o que eu quero dizer? Já estou são assombrado com o fato de existir em um mundo, que não tenho lugar para mais assombro se constatar que existe outro depois dele. (...) Quem garante que não há um novo "cenário" para a alma? Eu não acredito, palavra que não. Mas o sonho do improvável tem nome. Chama-se "esperança".

Tenho a sensação de que me pregaram uma peça, pois primeiro alguém chega e diz: tome, o mundo é todo seu, pode brincar aqui à vontade. Este é o seu chocalho, o seu trenzinho, esta é a escola que você vai começar a frequentar no outono. Para depois gritarem: primeiro de abril, primeiro de abril, você caiu feito um patinho! E então voltarem a me arrancar o mundo das mãos. Sinto que todos me abandonaram, deixaram-me a ver navios. Não tenho onde me segurar. Nada pode me salvar. E não é só o mundo que eu perco, não é só tudo e todos que amo. Eu me perco a mim mesmo. Zás - e eis que eu sumi.

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