Resenha - O Presidente Negro

quarta-feira, março 21, 2018


O Presidente Negro é um romance de ficção científica de Monteiro Lobato, publicado em 1928. Diferente de tudo o que você possa ter visto do autor (vulgo O Sítio do Pica-Pau Amarelo), nesse livro o racismo é jogado na cara do leitor sem dó nem piedade, mas será que isso se dá porque o autor era racista?

Título: O Presidente Negro
Autor: Monteiro Lobato
Ano: 2008
Nº de páginas: 202
Editora: Globo
Avaliação: ★★★★
Sinopse: Em seu primeiro romance para adultos, Monteiro Lobato aborda temas polêmicos como a segregação entre brancos e negros e a guerra dos sexos. Ainda prevê a futura hegemonia asiática em uma época em que a China, o gigante industrial do terceiro milênio não passava de um país quase feudal e totalmente dilacerado.
Neste livro também aparece o Teatro Onírico, que fixa os sonhos na tela de cinema, desmistificando as teorias freudianas ao transformar os fluxos do inconsciente em entretenimento de massa.
Ele intuiu também os experimentos científicos semelhantes aos clones atuais, em que seres humanos criados pela Corporação Psíquica de Detroit desdobravam-se, multiplicando os cinco sentidos.
Após o período em que viveu nos EUA, Monteiro Lobato afirmou que a América retratada neste livro estava de acordo com o que encontrara.


Ayrton é um homem comum que trabalha para uma empresa chamada "Sá, Pato & Cia". Certo dia, ele sofre um acidente de carro e é acolhido no castelo do professor Benson. Lá, o professora fala sobre o estudo de toda a sua vida e sua grande descoberta: o porviroscópio, uma máquina que permite que você veja o futuro. O professor alega ter visto algo que causaria grande choque na humanidade, mas antes de contar o que ele vira para Ayrton, ele acaba morrendo e quem se encarrega de mostrar ao homem o futuro, é a filha do professor, a Jane.

Jane é infinitamente mais inteligente que Ayrton e quando o pai dela morre, ela destrói o porviroscópio, mas decide que contará a Ayrton o que acontece no ano de 2228, nos Estados Unidos, desde que ele escreva um romance sobre isso depois.

Eis então que fazemos viagens constantes com os dois personagens, uma hora estamos em 1928, outra hora estamos em 2228. O maior acontecimento de 300 anos no futuro, foi que os Estados Unidos finalmente teria um presidente negro (acho que aconteceu um pouco antes, não é mesmo?). Na realidade, eram três partidos concorrendo à presidência: o Partido Masculino (liderado pelo branco Karlog), o Partido Feminista (liderado por Miss Evelyn Astor) e o Partido Negro (liderado por James/Jim Roy).

Em 2228, os negros já podiam passar por um procedimento que os tornava brancos, era o fenômeno conhecido como o "branqueamento dos negros". 

Vários discursos da personagem Jane, demonstram o forte racismo que Monteiro Lobato tinha. Menciona que os negros tinham "extintos selvagens", que o negro tinha força física, e o branco tinha caráter, diz que o negro tinha "aspecto de gorila" e por aí vai. 

Entretanto, o desfecho da história é a escolha mais racista que um autor poderia inventar. Um doutor chamado Dudley inventa os raios Omega, que podem alisar o cabelo dos negros, tornando-os totalmente como os brancos. 97% dos negros quiseram passar por esse processo de "alisamento", mas mais do que isso, esses raios também esterelizavam os negros, impossibilitando que a "raça" se reproduzisse.  

Vale lembrar que Monteiro Lobato vivia no início do século XX, quando a sociedade brasileira da época ainda era extremamente racista, logo, o autor expressa bem o pensamento vigente da época.

O final do livro foi muito impactante para mim, eu realmente não esperava que fossem fazer aquilo contra os negros. Em muitos momentos o discurso dos personagens é extremamente racista, chega a dar raiva enquanto você lê. Não podemos dizer que Monteiro Lobato era racista, ele apenas pensava como quase todos na época. Hoje em dia já avançamos muito, a palavra "racista" e o conceito de "raça" estão sendo abolidos. A sociedade atual ainda tem muito preconceito com o negro, mas naquela época esse preconceito ardia feito fogo.

É um bom livro, mas é necessário paciência e entender o contexto histórico em que o autor estava inserido (para não pegar ódio). É uma leitura importante, todos deveriam ler, inclusive para compreender como era o pensamento no Brasil naquela época.

E você, conhecia outras obras de Monteiro Lobato, além de "O Sítio do Pica-Pau Amarelo"? Sabia das discussões sobre racismo? Comenta aí!

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2 comentários

  1. Eu acho que assim: A sociedade da época era bem mais racista, Monteiro Lobato era racista por ser parte da sociedade e por reproduzir isso. Uma pessoa racista num meio racista ainda e racista.
    Eu já tentei ler Cidades Mortas dele, mas esse estilo do autor (na verdade escrita antiga de modo geral), não é o meu forte.
    Adorei a resenha, achei bem crítica!

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    1. Sim, o homem é fruto do meio, claro! Determinismo puro. Ahh quando eu era criança eu tentava ler O Sítio do Pica-Pau Amarelo e só me decepcionava! Hahaha A escrita dele é bem formal msmo, mas eu até que consegui encarar sem problemas! =)

      Obrigada! *-*

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