Resenha - Infância

domingo, abril 26, 2015


Título: Infância
Autor: Graciliano Ramos
Editora: Record
Nº de páginas: 272
Data de publicação: 1945
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Sinopse:
Infância - Obra autobiográfica do autor de "Vidas secas", em "Infância" Graciliano Ramos evoca, com um lirismo de beleza admirável, as recordações do menino que vai descobrindo, entre curioso e constrangido, o mundo dos adultos. 
Resenha

Confesso que adicionar esse livro à minha lista de leituras de 2015 foi uma completa surpresa, eu planejava ler mais nacionais nesse ano, mas não fazia ideia de que realmente os leria, ainda mais os clássicos. Mas sim, eu vou ler alguns nacionais clássicos esse ano por conta da Olimpíada de Literatura que estou participando. Para o primeiro desafio da olimpíada, as leituras selecionadas foram esse livro, "Infância", do autor Graciliano Ramos e "O Meu Pé de Laranja Lima", que vocês também verão resenha por aqui em breve.

Bom, o livro Infância é uma autobiografia do autor Graciliano Ramos, que conta como foi sua infância. Ele vive boa parte do livro no sertão de Pernambuco, conta que na primeira fazenda de que se recorda ter vivido, eles plantavam muita abóbora. Ele ouvia histórias, mas era novo demais para entender. Se muda várias vezes, sua mãe lhe dá vários outros irmãos ao longo do livro. 

Graciliano apanhou muito e foi repreendido severamente diversas vezes em sua infância. Seus pais eram impacientes e acreditavam que aquele que ama o seu filho, castiga-o com frequência. O pai de Graciliano era carrancudo. Sua mãe era má. Mas notamos a maior infelicidade de Graciliano quando ele vai para a escola. Muda de escola várias vezes, na verdade. Mas descreve como os professores eram rigorosos (com exceção da primeira) e batiam nos alunos da forma que podiam. 

Ele deixa bem claro o quanto o povo sofria com a seca do sertão pernambucano. Ele dizia que era a época que ele mais odiava. Certa vez, chegou a ficar desidratado (ter febre, etc). 

É muito legal quando ele começa a se envolver com livros desde que deixa de ser analfabeto, após os 9 anos de idade). Ele lê e vê como os livros podem lhe deixar triste, ele chega a "chorar muito", como descreve, após ler um pequeno conto chamado "O Menino da Mata e o seu Cão Piloto".

E assim acompanhamos, a infância até a puberdade de Graciliano Ramos.

"Desconfiava dos livros, que papel aguenta muita lorota."
"Certo dia vi moscas na cara de um, roendo o canto do olho, entrando no olho. E o olho sem se mexer, como se o menino estivesse morto. Não há prisão pior que uma escola primária do interior."

 Meu capítulo preferido

Meu capítulo preferido foi "Inferno" onde Graciliano pergunta à sua mãe o que é esse tal de inferno, já que as pessoas vivem mandando as outras para lá. Sua mãe responde que é um lugar terrível, onde as pessoas pagam os seus pecados e começa a descrevê-lo. Então ele pergunta:
"Você já esteve lá?"
Sua mãe responde que não, ele indaga como ela pode saber que é dessa maneira sem ter estado lá realmente. Ela responde que é o que os padres ensinam e ele retorna a perguntar:
"Os padres já estiveram lá?"
Sem conseguir se convencer, diz à sua mãe:
"Não há nada disso. É conversa."
E sua mãe lhe dá palmadas por dizer isso.

Foi o meu capítulo preferido por uma criança ser capaz de notar que algo é estranho demais para a realidade e desconfiar dele, querer provas concretas porque é uma coisa que ele está descobrindo no momento. Achei isso muito bacana.

✖ Avaliação da escrita: A escrita de Graciliano Ramos é muito descritiva em relação à aparência das pessoas e seus sentimentos internos (aumento da pressão sanguínea, etc). Me lembrou bastante a escrita de Patrick Rothfuss, mas acho incerto fazer uma comparação dessas. É engraçado ler algo com a ortografia de antigamente, com acentos circunflexos na maioria das palavras e ver acentos que não usamos hoje serem usados com frequência.

✖ Avaliação do enredo: Tecnicamente não há um enredo, pois é a infância do autor.

✖ Avaliação da capa: O livro Infância possui diversas edições. A maioria das capas não são lá aquelas coisas... Mas eu gostei da capa apresentada na resenha.

✖ Sobre o protagonista: Não é um livro com enredo e tudo o mais, mas posso falar do próprio Graciliano Ramos enquanto criança. Ele apanhava muito e não tinha em quem confiar seus pensamentos. Reclamava de todos ao seu redor, todos tinham defeitos demais para ele. Mas ele era uma criança como qualquer outra, que vai descobrindo o mundo e ficando completamente confuso com ele, até ser capaz de se adaptar e começar a aceitar as coisas como são.

✖ O que me levou a avaliá-lo como bom?
Não consegui avaliar o livro como excelente porque não foi um livro que realmente mudou algo em mim ou mexeu muito com os meus pensamentos. Eu ia apenas me identificando com a infância do autor. Mas, de qualquer forma, o livro não deixa de ser bom. Ele provoca risadas e reações de surpresa.

✖ Considerações finais: Achei interessante deixar algumas informações do autor aqui. Tentarei fazer isso com todas as resenhas daqui pra frente, espero que gostem.

Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo, em 27 de outubro de 1892. Primeiro de dezesseis irmãos de uma família de classe média do sertão nordestino, ele viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro, como Buíque (PE), Viçosa e Maceió (AL). Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como jornalista. Em setembro de 1915, motivado pela morte dos irmãos Otacília, Leonor e Clodoaldo e do sobrinho Heleno, vitimados pela epidemia de peste bubônica, volta para o Nordeste, fixando-se junto ao pai, que era comerciante em Palmeira dos Índios, Alagoas. Neste mesmo ano casou-se com Maria Augusta de Barros, que morreu em 1920, deixando-lhe quatro filhos. Em 1945 ingressou no antigo Partido Comunista do Brasil - PCB (que nos anos sessenta dividiu-se em Partido Comunista Brasileiro - PCB - e Partido Comunista do Brasil - PCdoB), de orientação soviética e sob o comando de Luís Carlos Prestes; nos anos seguintes, realizaria algumas viagens a países europeus com a segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, retratadas no livro Viagem (1954). Ainda em 1945, publicou Infância, relato autobiográfico.
Adoeceu gravemente em 1952. No começo de 1953 foi internado, mas acabou falecendo em 20 de março de 1953, aos 60 anos, vítima de câncer do pulmão.

E você, já leu algo do Graciliano Ramos? Se sim, qual obra? 

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