Publicado em 1937, por Jorge Amado logo após a aplicação do Estado Novo no Brasil, Capitães da Areia é um romance que teve sua primeira edição queimada em praça pública, mas que em 1940 marcou a literatura brasileira irreversivelmente. Além de narrar a vida de meninos "bandidos" de Salvador, nos mostra a tristeza e a esperança que há por trás de cada personagem em meio a um enredo repleto de origens e costumes brasileiros.

Capitães da Areia se passa na Bahia, onde meninos pobres se reuniram para roubar. Esses meninos são brancos, negros e mulatos, não tem família e ODEIAM os ricos com todas as forças. Pedro Bala (o líder), João Grande, João de Adão, Professor, Dora e Sem-Pernas são apenas alguns dos personagens do romance, marcados pela injustiça e desigualdades.

Esses meninos vivem em uma casa praticamente abandonada, eles possuem armas e sabem bem como roubar e fugir. Sem-Pernas até tem o seu próprio método: pede ajuda, comida e um lugar para dormir para os ricos e eles, piedosos e cheios de remorso, muitas vezes aceitam. Depois de um tempo dentro da casa, Sem-Pernas passa para o resto do grupo onde a família esconde o dinheiro e as jóias.

Padre Pedro é um personagem que aparece e merece destaque. De acordo com as normas da igreja, ele poderia oferecer cuidados e bênçãos aos meninos. Entretanto, com o tempo, ele acaba se envolvendo e ficando à favor das práticas do grupo. Acaba ajudando-os em diversos momentos e não vê isso como algo errado, já que eles tem uma "causa".

Mesmo que o padre se faça útil para os garotos, a religião católica não é a que eles seguem. Na obra, o autor trouxe algo muito mais forte em relação à religião e a cultura trazida para o Brasil. Em Capitães da Areia, grande parte dos personagens acreditavam em Ogum e seguiam a religião africana.

Além da religião retratada, a linguagem coloquial dos diálogos (condizentes com os personagens, pois alguns têm até um estilo particular de falar) também ressalta a característica modernista da obra.

Um aspecto que torna o romance bastante forte e impactante, é o fato de termos crianças fazendo coisas de adultos: roubando, fumando, bebendo, estuprando ("tombando as negrinhas na areia"), fazendo sexo e tendo muitos desejos sexuais. Essas características são bastante chocantes, mas em meio ao enredo, o autor consegue narrar naturalmente os eventos e fatos, por mais que nos cause muita estranheza e aversão.

O livro mostra e critica a realidade do povo pobre da Bahia na época da década de 30, ressaltando a injustiça que muitos sofriam, enquanto outros esbaldavam dinheiro. Essa "injustiça" inclui a pobreza, a fome, a miséria, o desemprego... É uma obra que mostra como era o Nordeste, uma área que sempre foi ignorada pelos brasileiros, que achavam que o Brasil era só São Paulo, Rio de Janeiro e região sul (isso acontece até hoje). Pessoas vivem e sofrem no nordeste, lutando para sobreviver como podem.

Considero a leitura desse livro fundamental para todos, é aquele tipo de história escrita por um brasileiro, retratando a realidade do Brasil e seus costumes. Precisamos ter conhecimento sobre essas informações, pois só assim deixaremos a ignorância de lado. A literatura está aqui para isso, aproveite!