Resenha - O melhor de Rubem Fonseca Contos e Crônicas

quinta-feira, julho 02, 2020



Publicada em 2015, a edição O melhor de Rubem Fonseca Contos e Crônicas buscou reunir uma seleção dos melhores contos e crônicas do autor. Para quem não conhece, Rubem Fonseca foi um grande contista, cronista, ensaísta e roteirisa brasileiro que, infelizmente, faleceu em 15 de abril deste ano.
Título: O melhor de Rubem Fonseca Contos e Crônicas
Autor: Rubem Fonseca
Ano: 2015
Nº de páginas: 296
Editora: Nova Fronteira
Avaliação: ★★★★
Sinopse: A Nova Fronteira lança, no ano de seu aniversário de 50 anos, a coleção O melhor de, trazendo a público antologias de grandes nomes da literatura. O melhor de Rubem Fonseca apresenta um panorama da obra desses que é um dos maiores contistas vivos da nossa literatura.
 

Durante a faculdade de Letras, o meu professor de literatura sempre recomendava muito a leitura de Rubem Fonseca, chegando até mesmo a ler alguns contos e crônicas do autor para a gente na sala de aula (o primeiro foi "Passeio Noturno - Parte 1" e todos nós ficamos muito chocados). Com tanta "promoção" do autor, finalmente tomei coragem de adquirir o livro ano passado e consegui realizar a leitura recentemente. O sentimento que eu tenho depois de ler essa seleção de contos e crônicas foi: esse autor têm problemas mentais muito sérios.

"Minha cara é uma colagem de várias caras, isso começou aos dezoito anos; até então o meu rosto tinha unidade e simetria, eu era um só. Depois tornei-me muitos". (p. 132)

Essa foi só a primeira impressão, calma! Como boa leitora que sou, sei muito bem que "o poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente" (Autopsicografia, Fernando Pessoa), então sei perfeitamente que o autor não precisa ser um louco para escrever o que eu li. Entretanto, não há como não notar o quão pesados são esses contos e crônicas, algo que molda o tão autêntico estilo do autor. Inclusive, Rubem Fonseca ganhou o Prêmio Camões em 2003, o prêmio literário mais prestigiado da Língua Portuguesa.

"Está tudo errado, o Hino Nacional com sua letra idiota e a bandeira positivista sem a cor vermelha, toda bandeira deve ter a cor vermelha, de que vale o verde das nossas matas e o amarelo do nosso ouro sem o sangue das nossas veias?" (p. 134)

O que você encontrará nessa antologia, são contos e crônicas de linguagem pesada e carregada de palavrões, humor negro, estupro, racismo, assassinatos a sangue frio, crimes de todos os tipos, fetiches sexuais inusitados, violência, escatologia e personagens masculinos "canalhas", em outras palavras, as histórias são bastante encômodas. Algumas te farão rir e outras te farão se sentir muito desconfortável. 

"O que nos diferencia dos animais é que bebemos quando não sentimos sede e fazemos amor a qualquer momento. Faz parte da natureza humana, da nossa essência". (p. 249)

"Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas coisas diferentes para o homem e para a mulher. Para a mulher, amor exprime renúncia, dádiva. Já o homem quer possuir a mulher, tomá-la, a fim de enriquecer e reforçar o seu poder de existir. Respondi que Nietzsche era um maluco. Mas aquela conversa era o início do fim. Na cama não se fala de filosofia". (p. 261-262)

As narrativas ocorrem em primeira e terceira pessoa, sendo principalmente em primeira pessoa na maioria dos contos e crônicas, o que te aproxima ainda mais da mentalidade perturbada de certos personagens. Algo que chama a atenção também, são os diálogos, que ora estão entre aspas, ora estão jogados no texto e não possuem travessão, ou seja, a narrativa e os diálogos se misturam. Essa técnica, na minha opinião, permitiu que eu, como leitora, me aproximasse anda mais da história narrada. Dessa forma, o autor utiliza de uma linguagem que eu nunca li igual, para te levar ainda mais fundo nos problemas de cada conto e crônica, a fim de te "perturbar" mais, digamos assim. 



Com histórias tão cruéis e um jeito ainda mais cruel de contá-las, Rubem Fonseca me proporcionou uma experiência totalmente nova como leitora. Eu nunca tinha lido algo tão pesado, mas que, em muitos momentos, ainda faz críticas e mostra a revolta de classes. Eu ainda não sei se consigo definir muito bem o que a leitura me passou, mas é como se o autor fosse um malandro, só esperando para te dar um soco na cara durante ou depois do que você leu. Eu também acho que ele é simplesmente um gênio provocador e eu adorei! Recomendo muito a leitura para quem está buscando algo totalmente diferenciado na literatura brasileira. Contudo, não esqueça de estar de mente bem aberta e preparado para bombas realmente pesadas (algumas são até bem engraçadas).

"Aprendi há muito tempo que a gente não pode fazer tudo o que gosta". (p. 213)

Os meus contos/crônicas favoritos do livro foram:

- A força humana;
- Passeio Noturno (Parte I);
- O Cobrador;
- Romance Negro;
- Copromancia;
- Caderninho de nomes;
- Laurinha.

E você, já leu a obra? Ouviu falar do autor? Comenta aí!

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