Você, escritor! - 11 passos para escrever uma cena e exemplo
quarta-feira, março 20, 2019
Olá, pessoas interessantes! Hoje o post é para quem tem dificuldades em construir cenas, pois nem sempre é fácil se atentar a detalhes cruciais que podem fazer sua cena muito boa. Existem várias técnicas para criar cenas, mas essa é uma das mais simples. São 11 passos (algumas perguntas) para te ajudar a pensar a cena e, no final, eu mostrarei como esses passos são aplicados por mim.
*Ilustração do post do Less Likes, More Violence.
Os 11 passos
1. O que precisa acontecer nessa cena?2. Qual é a pior coisa que poderia acontecer se essa cena não acontecesse?
3. Quem precisa estar nessa cena?
4. Onde essa cena precisa acontecer?
5. Qual é a coisa mais surpreendente que poderia acontecer nessa cena?
6. É uma cena longa ou curta?
7. Imagine três jeitos diferentes de começar a cena.
8. Imagine a cena como em uma tela da sua cabeça.
9. Escreva uma versão encurtada, para te guiar.
10. Escreva a cena inteira.
11. Repita 200 vezes até terminar o livro. (risos)
Fonte: Pinterest
Exemplo - Aplicando na prática
Como exemplo, usarei o capítulo 10 do meu livro Less Likes, More Violence. CLIQUE AQUI PARA ABRIR O CAPÍTULO.
1. O que precisa acontecer nessa cena?
Matt precisa brigar com o James no estacionamento.
2. Qual é a pior coisa que poderia acontecer se essa cena não acontecesse?
Os dois jamais começariam uma intriga.
3. Quem precisa estar nessa cena?
Matthew e James.
4. Onde essa cena precisa acontecer?
Estacionamento deserto do mercado.
5. Qual é a coisa mais surpreendente que poderia acontecer nessa cena?
Uma fala arrasadora do James para o Matthew. "Você vai ser perfeito".
6. É uma cena longa ou curta?
Média para longa.
7. Imagine três jeitos diferentes de começar a cena.
Como começa: James sentiu o cheiro de asfalto molhado enquanto atravessava o estacionamento deserto do mercado.
8. Imagine a cena como em uma tela da sua cabeça.
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9. Escreva uma versão encurtada, para te guiar.
Matt vai tirar satisfação com James por conta da máquina de café destruída. James briga com Matt pela primeira vez no estacionamento do mercado.
10. Escreva a cena inteira.
James sentiu o cheiro de asfalto molhado enquanto atravessava o estacionamento deserto do mercado. Por que ele iria querer me encontrar aqui e à essa hora? Esse cara me surpreende, às vezes. Encostou-se na primeira parede que viu e pegou o cigarro do bolso da jaqueta, mas não estava encontrando o isqueiro.
— Você precisa parar de fumar. — Disse Matt, olhando com pena para James e tentando conter a raiva que sentia.
James levantou os olhos para o amigo e tirou o cigarro dos lábios.
— Eu sei... — James deu um sorriso, estava feliz em ver Matthew. — Mas não está nos meus planos no momento... E então, como você tá?
— Eu não sei o que você fez comigo, cara, mas é melhor você começar a me explicar. Que tipo de drogas você me deu? — Matthew queria respostas e não podia mais esperar. — Eu vi você ontem, foi você quem destruiu aquela merda de máquina!
— Do que você tá falando? — James não estava entendendo nada.
— Não finja que não sabe de nada! — Matt se aproximou e empurrou James violentamente contra a parede.
— Mas que merd... Que merda é essa agora? Vai me bater? Eu não faço ideia do que você está falando! — James berrou e o empurrou de volta.
— Você sabe muito bem do que estou falando! — Matt estava gritando e apontando o dedo para o peito de James. — Você apareceu no café ontem, começou a falar um monte de merda para mim e, como se não bastasse, destruiu a porra da máquina que eu me esforcei tanto para conseguir.
— O quê? — James não sabia mesmo do que Matt estava falando.
— Eu perdi a porra do meu emprego por sua culpa! — Matt não aguentou e deu um soco na cara de James.
— Tudo por causa dessas suas ideias de merda!
E deu outro soco.
— Seu louco, desgraçado!
E mais outro.
O seguinte não atingiu, porque James segurou seu braço e o golpeou com um golpe nas costelas.
Matt gritou de dor, James lhe deu um soco na cara que o derrubou. Em seguida, se afastou limpando o sangue da boca.
Matthew levantou com dificuldade. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. A raiva o consumia e, inclusive, foi ela quem disse:
— Eu quero mais é que você morra com essa sua brincadeira ridícula do caralho! Seu doente mental!
O mundo parou para James.
— Como é que é? — A mão de James tremia, seu melhor amigo desejou a sua morte e algo se quebrou dentro dele. — Repete essa merda agora.
Matthew ficou em silêncio, com a mão nas costelas, respirando ofegante. James começou a balançar a cabeça, assentindo positivamente para os seus próprios pensamentos. É isso mesmo que você ouviu, esse filho da puta disse que quer que você morra. Ele nunca vai te apoiar em nada, a sua ideia de trazer ele para o seu lado não vai acontecer, porque ele é um alienado. Não tem como fazer um cego enxergar, mas ele ainda pode sentir...
James foi na direção de Matt, que levantou-se abruptamente e saiu correndo pelo estacionamento. Os dois estavam correndo à toda velocidade pelas faixas e pela escuridão, até que James o alcançou e se jogou em cima de Matthew. Eles caíram no asfalto frio em um abraço de ódio. James o imobilizou e deu um, dois, três, quatro socos direto na cara de Matt. O sangue espirrava no chão, mas só dava para ver quando os respingos caíam sobre as faixas amarelas.
Matthew queria fazer alguma coisa, mas só agarrou a jaqueta de James e sentia as costas dele se moverem conforme ele lhe batia fervorosamente.
James parou quando viu que Matthew ia desmaiar e saiu de cima dele. Já havia lágrimas, sangue e suor por todo o seu rosto, mas ele não percebeu que estava chorando, só observava Matthew caído lá. Não sabia se ajudava ou ia embora.
— James... — Matt gemeu. — Me ajuda...
James ainda estava com raiva, mas não podia deixá-lo daquele jeito. Quando se aproximou do amigo e estendeu a mão, Matt o puxou em sua direção e lhe deu um soco na boca do estômago, James caiu em cima dele e tentou travar seus braços, mas por conta da dor, não conseguiu usar a força necessária e levou um soco no ouvido. O bipe veio na mesma hora, seguido de mais um soco na cara e ele levaria outro, se não tivesse começado a rir.
Matt parou na mesma hora e se afastou. James gargalhava alto e gotas de saliva com sangue voavam de sua boca.
— Eu sabia, Matthew! — Riu mais. — Eu sabia! — E riu ainda mais alto, sua barriga doía de tanto rir. — Ha-ha-ha-ha-ha!
— Você é louco... Você vai morrer... — Matt falou baixo, mais para si mesmo do que para James.
James se sentou de repente, com a cabeça baixa em direção ao peito. Matt ergueu os punhos em posição de ataque e, quando o amigo levantou o rosto ensanguentado, olhou no fundo dos seus olhos e disse "E você vai ser perfeito", ele só conseguiu sair correndo o mais rápido que pode.
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Preferi aplicar em uma cena que já estava pronta, para mostrar como a leitura e a prática da criação de cenas torna até automáticos esses passos, afinal, eu sequer havia pensado neles na hora de escrever.
E você, cria cenas facilmente ou precisa de um brainstorm assim? Comenta aí!
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