Resenha - Homens imprudentemente poéticos
segunda-feira, março 11, 2019
Homens imprudentemente poéticos é uma obra lindíssima do autor português, Valter Hugo Mãe. Publicado em 2016, a linguagem poética e o modo como Valter Hugo Mãe compõe o enredo, como uma música, é o que fará você viajar até o Japão e conhecer uma história inesquecível.
Título: Homens imprudentemente poéticos
Autor: Valter Hugo Mãe
Ano de publicação: 2016
Nº de páginas: 192
Editora: Editora Globo - Biblioteca Azul
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Em Homens imprudentemente poéticos, Valter Hugo Mãe apresenta os personagens Itaro, o artesão, e Saburo, o oleiro, vizinhos e inimigos num Japão antigo, onde a morte e a ausência de amor servem de pano de fundo para a linguagem lírica do autor que, com sua linguagem única, tornou-se a grande voz da literatura portuguesa contemporânea.
A história se passa em tempos difíceis no Japão antigo, girando em torno de personagens extremamente profundos. Itaro (um artesão de leques) é irmão de Matsu, uma garota cega. A criada dos irmãos, senhorita Kame, também é muito importante. Seu inimigo, Saburo (um oleiro) é aficcionado pelo kimono de sua falecida esposa, senhora Fuyu.
As partes mais comoventes envolvem os irmãos Itaro e Matsu. Quando nasceu, os pais de Matsu queriam tirar-lhe a vida, pois ela não poderia viver uma boa vida sem enxergar. No entanto, com a morte dos dois, a criada Kame é quem toma conta da menina e de Itaro. Entretanto, o irmão nunca demonstrou amar a irmã cega e, por conta de problemas financeiros, ele acaba tomando uma atitude irreversível e que vai atormentá-lo até o desfecho do livro.
Saburo, o inimigo de Itaro, julga todas as ações do vizinho e ainda o acusa sem motivos de ter matado sua mulher, a senhora Fuyu. Para mim, a inimizade dos dois serve para ajudar Itaro a crescer e a mudar sua personalidade fria e estúpida. Senhorita Kame é a que mais sofre com o gênio de Itaro, que a maltrata por ser uma criada.
O capítulo mais importante desse livro é o "A lenda do poço" (página 122). Nele, Itaro muda completamente e finalmente entendemos o que os animais da história realmente são. Há uma questão de zoomorfismo bastante latente no enredo. Toda hora há algum personagem temendo um bicho, e nesse capítulo em especial, Itaro é sujeitado a CONVIVER com um bicho terrível (o seu próprio bicho). Esse tema daria um ótimo artigo, pois diferentemente de "O Cortiço" (resenha aqui), a obra brasileira que compara os personagens a animais, em Homens Imprudentemente Poéticos, os animais representam sentimentos.
Um dos mais polêmicos temas abordados nesse livro, é o dos suicídas da floresta, uma vez que no Japão, a floresta próxima ao monte Fuji é conhecida como um cemitério dos suicídas. Inclusive, há vários documentários mostrando esses locais, onde é possível encontrar pertences dos mortos e até ossos.
A linguagem do livro chama muito a atenção do leitor, afinal, não há pontuações para diálogos e o autor não usa nada além de pontos e vírgulas. Com um tom bastante poético, fui cativada pela escrita de Valter Hugo Mãe e já estou ansiosa para ler "Filho de mil pais". Vou deixar aqui uma pequena amostra de descrição:
Algumas flores de cereijeira percorriam o chão. Iam no vento. O perfume das belas árvores repartia-se pelos lugares dos aldeões. O sol caminhava ao contrário, como se fosse de volta ao centro da floresta, a ver o rosto mais belo da morte. A antiga origem. Morrera o homem imaterial. Pensaram. O austero monge era inteiro o mesmo que a circundante natureza. As cereijeiras enviaram suas lágrimas em flor, inundando lentamente a terra toda. Lentamente, a terra toda se coloria de uma claridade terna. A senhora Kame explicada: é um algodão a chegar da floresta. Itaro sentia que era lindo.
Com isso, posso dizer que se você está procurando uma experiência literária diferente, poética, uma arte pura, você precisa ler Valter Hugo Mãe. Homens Imprudentemente Poéticos é uma história simples, mas muito comovente e cheia de ensinamentos. Os personagens aprendem e mudam, fazendo você refletir profundamente sobre as atitudes humanas e, em consequência, sobre as suas atitudes.
E você, já leu algo do autor? Gostou? Gostaria de ler? Se sim, comenta aí!
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