Resenha - Budapeste

segunda-feira, maio 06, 2019


Budapeste é um romance de Chico Buarque, publicado em 2003 pela Companhia das Letras. Com um protagonista ghost-writer e que possui duas vidas, Chico Buarque nos mostra por meio de uma narrativa densa, moderna, cheia de humor e fluidez, que viver nas sombras por muito tempo pode te fazer desconhecer os holofotes no futuro.



Título: Budapeste
Autor: Chico Buarque
Ano de publicação: 2003
Nº de páginas: 173
Editora: Companhia das Letras
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Ao concluir a autobiografia romanceada "O Ginógrafo", a pedido de um bizarro executivo alemão que fez carreira no Rio de Janeiro, José Costa, um escritor fantasma de talento fora do comum, se vê diante de um impasse criativo e existencial. Escriba exímio, "gênio", nas palavras do sócio, que o explora na "agência cultural" que dividem em Copacabana, Costa, meio sem querer, de mera escrita sob encomenda passa a praticar "alta literatura". Também meio sem querer, vai parar em Budapeste, onde buscará a redenção no idioma húngaro, "segundo as más línguas, a única língua que o diabo respeita". Narrado em primeira pessoa, combinando alta densidade narrativa com um senso de humor muito particular, "Budapeste" é a história de um homem exaurido por seu próprio talento, que se vê emparedado entre duas cidades, duas mulheres, dois livros, duas línguas e uma série de outros pares simétricos que conferem ao texto o caráter de espelhamento que permeia todo o romance, e que levaram o professor José Miguel Wisnik a afirmar que se trata de "um romance do duplo". Tenso e à vontade, cultivado e coloquial, belo e grotesco, "Budapeste" traz a perfeição narrativa de "Estorvo" e "Benjamim" e confirma Chico Buarque como um dos grandes romancistas brasileiros da atualidade.

Budapeste foi a primeira obra de Chico Buarque que eu li, até então eu sequer sabia que além de músico, ele também publicou livros. A leitura foi feita para a realização de uma crítica literária para a faculdade, mas como de costume, acabei descobrindo um autor incrível e que despertou em mim a vontade de ler todas as obras dele.

Assim que terminei a leitura, já parti para a releitura, uma vez que eu precisava fazer um trabalho em cima do texto. A obra é bem curta e, pela linguagem fluida, pode ser lida rapidamente. José Costa é nosso protagonista. Ele é um ghost-writer (escritor fantasma) em uma agência no Rio de Janeiro. Álvaro e José são sócios da agência e José gosta muito de ver os textos que produz sendo elogiados pelos leitores. Entretanto, ele prefere ficar nas sombras e ser somente o ser anônimo por trás dos textos. Ele é casado com a morena Vanda (uma jornalista) e tem com ela um filho, o Joaquinzinho, um garoto gordinho e com afasia.

Certo dia, José é convidado para um encontro internacional de escritores anônimos em Stambul. No evento, José se sente identificado e como se estivesse em um grupo de anônimos viciados. Todos lá eram viciados em palavras e em não ter suas identidades reveladas para o mundo.

Quando voltava para o Brasil, o avião recebe uma denúncia de bomba e José é obrigado a desembarcar em Budapeste. Lá, ele decide aprender a falar húngaro e conhece Kriska, sua nova professora do idioma, e com quem ele tem um caso. De volta ao Brasil, ele escreve a autobiografia forjada de um alemão que veio ao Brasil. A obra intitulada como "O Ginógrafo", era sobre ele e como era fissurado por escrever livros na pele de mulheres. O livro se torna um best-seller e José começa a ficar incomodado com a sua falta de reconhecimento.

Novamente em Budapeste, ele percebe como tudo lá é mais claro. Lá, chamam-no de Kósta, Kriska é "branca, branca, branca", e ele gosta muito de Pispi, o filho dela. O Brasil é a parte escura na vida dele, e Budapeste é a parte clara: um grande jogo de claro-escuro que comprova o seu alter ego (vida dupla).

Ao final, ele finalmente consegue reconhecimento como escritor, publicando em Húngaro sua autobiografia, intitulada "Budapeste". Apesar da relutância para aceitar que o livro era ele mesmo (ele jurava que um ghost-writer tinha escrito), com o tempo ele aceita e deixa as sombras do mundo da literatura.

A dualidade da obra é gritante, ele tem 2 vidas, 2 cidades, 2 idiomas, 2 mulheres e 2 filhos, tudo num jogo de luz que relembra a arte barroca na pintura de um modo sutil. 

E você, já leu Budapeste ou algo do Chico Buarque? Comenta aí!

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