Resenha - Em Busca de Curitiba Perdida

segunda-feira, maio 13, 2019


Em Busca de Curitiba Perdida, do nosso ilustre autor curitibano, Dalton Trevisan, é uma coletânea de contos e versos. Com o brutalismo e o humor balanceados, nessa obra podemos ler histórias que se passam na cidade de Curitiba, relembrar do vampiro Nelsinho e de como a cidade pode ser bonita e feia ao mesmo tempo.



Título: Em busca de Curitiba perdida

Autor: Dalton Trevisan
Ano: 1992
Nº de páginas: 90
Editora: Record
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Contos sobre a cidade de Curitiba.




Em Busca de Curitiba Perdida foi o segundo livro de Dalton Trevisan que eu li, o primeiro foi O Vampiro de Curitiba (resenha aqui) e eu gostei bastante. Nessa segunda experiência (solicitada pela faculdade de Letras), pude ler contos que se passam em Curitiba. Alguns contos são mais leves, outros são extremamente pesados, cheios de brutalismo e violência. A linguagem seca e direta garantem o efeito brutal de um retrato da nossa querida Curitiba, que esconde coisas horríveis por trás de sua fama de cidade modelo na mídia.

Os textos do livro são: Em busca de Curitiba perdida, Pensão Nápoles, Lamentações de Curitiba, Uma vela para Dario, Balada do vampiro, Cemitério de elefantes, Dá uivos ó porta grita ó rio Belém, Duas rainhas, O senhor meu marido, Canção do Exílio, Quem tem medo de vampiro?, Clínica de repouso, Cartinha a um velho poeta, Noites de Curitiba, Lamentações da Rua Ubaldino, A faca no coração, Cartinha a um velho prosador, Uma negrinha acenando, Receita de curitibana, Com o facão dói, Que fim levou o vampiro de Curitiba?, Cinco haicais e Curitiba revisitada.

Nesses contos, Dalton faz uma crítica social por meio de personagens que são desajustados socialmente e revoltados. Também pode-se notar a identidade curitibana por meio de personagens ignorantes, malfeitores e egoístas (as pessoas "frias" de Curitiba). Lemos sobre o frio, os bêbados, os pobres, as prostitutas, os solteiros, os casados, os traídos, os loucos e os malandros: o pacote completo da "feiura" de Curitiba e de qualquer capital. 

(...) a melhor de todas as cidades possíveis
nenhum motorista pô respeita o sinal vermelho
Curitiba europeia do primeiro mundo
cinquenta buracos por pessoa em toda calçada
Curitiba alegre do povo feliz
essa é a cidade irreal da propaganda
ninguém não viu não sabe onde fica
falso produto de marketing político
ópera bufa de nuvem fraude arame
cidade alegríssima de mentirinha
povo felicíssimo sem rosto sem direito sem pão
dessa Curitiba não me ufano
não Curitiba não é uma festa
os dias da ira nas ruas vêm aí. (p. 86-87)

Além disso, Dalton também faz várias intertextualidades, imitando e mencionando os clássicos em seus textos. Como no poema abaixo, que é uma paródia do clássico "Canção do Exílio":

Canção do Exílio

Não permita Deus que eu morra
sem que daqui me vá
sem que diga adeus ao pinheiro
onde já não canta o sabiá
morrer ó supremo desfrute
em Curitiba é que não dá
com o poetinha bem viu o que fizeram
o Fafau e o Xaxufa gorjeando os versinhos
na missa das seis na Igreja da Ordem
o trêfego Jaima batia palminha
em Curitiba a morte não é séria
um vereador gaiato já te muda em nome de rua
ao menos fosse de mulheres da vida
nem pensar no necrológico
o Wanderlei já imaginou
ó santo Deus não o Wanderlei
sem contar a sessão pública dos onze positivistas (...)
Adorei os contos e os senti como uns bons tapas na cara da sociedade. Curitiba esconde muita coisa feia e só quem mora na cidade sabe disso. Os problemas políticos e sociais estão nas ruas para serem vistos todos os dias, mas ainda assim a cidade é vendida para o resto do Brasil como um modelo a ser seguido. O interessante é perceber como essas questões não mudaram na cidade desde a época em que essa obra foi publicada, em 1992.

E você, já ouviu falar de Dalton Trevisan e de suas obras? Comenta aí!

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