Resenha - Senhora

segunda-feira, agosto 09, 2021


Senhora, de José de Alencar, é um romance urbano, publicado pela primeira vez em 1874, em formato de folhetim. O livro foi publicado três anos antes da morte do autor, mas assim como Lucíola e Iracema, foi uma das obras mais aclamadas de Alencar.

Título: Senhora

Autor: José de Alencar

Ano: 2016

Nº de páginas: 253

Editora: Nova Fronteira

Avaliação: ★★★★

Sinopse: Durante todo o ensino fundamental, o estudante terá percorrido oito ou nove anos de leitura de textos variados. Ao chegar ao ensino médio, ele passa a ter contato com o estudo sistematizado de literatura brasileira. Nesse sentido, aprende a situar autores e obras na linha do tempo, a identificar a estética literária a que pertencem etc. Mas não passa, necessariamente, a ler mais.


A "Senhora" do romance é Aurélia, uma menina que viveu boa parte de sua vida em pobreza. Quando maior, conheceu Fernando Seixas, seu primeiro amor. Obviamente ela imaginava um futuro romântico com ele e o enxergava como o seu príncipe encantado. Fernando até chegou a pedir Aurélia em casamento, mas ele não tinha dinheiro também. Quando surgiu uma garota rica e com potencial para ser sua esposa, Fernando larga Aurélia e vai tentar se casar com essa mulher.

" - Não vejo ainda a vida por esse prisma. Compreendo que um homem sacrifique-se por qualquer motivo nobre, para fazer a felicidade de uma mulher, ou de entes que lhe são caros; mas se o fizer por um preço em moeda, não é sacrifício, mas tráfico". (p. 54)

Aurélia se vê devastada e se sente traída. Entretanto, logo ela se torna órfã e seu avô também morre, deixando para ela uma herança gigantesca. Praticamente de um dia para o outro, ela se torna extremamente rica. Agora com dinheiro, ela decide ir atrás de Fernando e consegui-lo de volta para se vingar. Ainda assim, depois do casamento, é possível perceber que ela o amava, mesmo quando tentava tratá-lo mal e deixava claro que ele havia sido comprado com o dote.

"Aurélia amava mais seu amor do que seu amante; era mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem". (p. 112)

Toda essa tensão entre o casal por Fernando ser posicionado como um objeto comprado por Aurélia, e ela ao mesmo tempo buscando que ele sinta toda essa decepção como forma de vingança, faz com que o leitor se envolva e comece a acreditar que, apesar dos pesares, os dois vão acabar juntos no final.

" - Vendido sim; não tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-e cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por esse momento". (p. 86)

Aurélia é uma personagem muito bem construída. A heroína do romance é descrita como incrivelmente bela, deseja "pelos disponíveis", carismática e forte. Com a riqueza, ela se tornou extremamente popular na cidade do Rio de Janeiro, frequentando eventos, bailes, etc. A narrativa nos apresenta como pano de fundo uma vida urbana agitada, bem como descreve os costumes tradicionais do século IXX: o modo como as pessoas se vestiam, lugares que frequentavam, como era o comportamento dos homens, como era o comportamento das mulheres, como era o casamento e a vida da classe alta. 

"Como mensagem, o romance apresenta a condenação ao casamento de conveniência e aponta os males e perigos da educação artificial da época, desenvolvida em função das atividades da vida social, do ambiente falso dos salões; e - não seria Alencar - afirma a superioridade da vida rural e do homem do campo sobre o ambiente e o habitante das cidades". (p. 11)

Por ser uma obra de José de Alencar (o motivo de trauma de muita gente com a literatura brasileira, na época da escola), a linguagem é bastante rebuscada e enfeitada. Tal linguagem era adotada justamente por motivo de estética, para tornar o livro uma obra de arte escrita. Além do mais, esse estilo estava na moda na época e todos os autores buscavam atingí-lo.

"O casamento é geralmente considerado como a iniciação do mancebo na realidade da vida. Ele prepara a família, a maior e mais séria de todas as responsabilidades. Atualmente esse ato solene tem perdido muito de sua importância; o indivíduo há que se casa com a mesma consciência e serenidade com que o viajante aposenta-se em uma hospedaria". (p. 155)


Gostaria de deixar a minha recomendação de "Senhora", porque é um livro que eu nunca pensei que chamaria minha atenção ou que eu chegaria a ler, mas acabou que fiquei extremanente entretida com esse romance (de fato, parecia que eu estava lendo uma novela). A relação dos personagens principais foi algo inédito para mim: uma tensão cheia de vingança e amor ao mesmo tempo, gerando intriga e fazendo a gente torcer para que, no final, os dois superassem tudo e se perdoassem. Achei o final bastante surpreendente também e gostei bastante da leitura!


E você, já leu algo de José de Alecar? Passou pelo trauma de achar os livros dele chatos? Comenta aí!

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