Resenha - O Peso do Pássaro Morto

segunda-feira, agosto 23, 2021

 

O Peso do Pássaro Morto, romance da autora brasileira, Aline Bei, foi um dos livros mais tocantes que eu li em 2021. Apesar de bem curto e com uma narrativa simples em versos, o conteúdo é bastante nostálgico e pesado. 
Título: O Peso do Pássaro Morto
Autora: Aline Bei
Ano: 2017
Nº de páginas: 168
Editora: Nós
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Livro vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2018 na categoria Melhor romance de autor estreante com menos de 40 anos. A vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um livro denso e leve, violento e poético. É assim O peso do pássaro morto, romance de estreia de Aline Bei, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita.

O Peso do Pássaro Morto é narrado por uma protagonista sem nome. O livro é divido pelas idades da personagem, portanto, o leitor acompanha a vida dela dos 8 anos 52 anos. A obra é bastante curta e a linguagem se dá por meio de versos e com um estilo que se aproxima bastante da oralidade, justamente para aproximar a personagem que está contando a história de quem está lendo. 

"quando vamos muito aos lugares, eles começam a gostar da gente ao ponto de sentir saudade se ficarmos um tempo sem aparecer."

Essa protagonista sofre uma grande perda logo na infância, além de nunca ter conseguido se aproximar muito de sua mãe. Na adolescência ela enfrenta traumas ainda maiores e acaba engravidando. A gravidez é um grande impasse e trata muito do tema do aborto. Entretanto, seu filho, Lucas, nasce e ela acaba fazendo exatamente como sua mãe e não se aproxima tanto do filho. Os sonhos dela são colocados de lado e ela segue um caminho na vida totalmente diferente do que ela esperava.

"o bife é morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que farão com a sua carne. quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos. mas tentamos. almoçamos a morte e foi calado."

Basicamente, a obra mostra, por meio dessa linha do tempo de vida da personagem, aspectos cotidianos, tristezas e belezas do dia-a-dia, sempre com aquela lembrança e saudades da infância. A vida é mostrada em sua forma mais crua, sem floreio algum. Eu senti a protagonista pegar na minha mão e dizer "venha, vou te contar uma história triste e sem final feliz, exatamente como acontece todos os dias no mundo... vidas começam e vidas terminam sem a gente dar valor".

"a saudade é amor e é dos vivos, estou falando da coisa viva que fica nos mortos, minha mãe chama de: – alma. eu prefiro chamar de: – quando o deusinho teimoso mora na gente."

Por isso, o tema central da obra é a dor da perda. A personagem perdeu muitas coisas que eram importantes para ela durante o livro, e o final é a reviravolta que nunca aconteceu. Recomendo muito esse livro, infelizmente, para o momento, é cheio de gatilhos, mas a linguagem diferenciada e a história simples se passando no Brasil conquistou meu coração (e eu terminei a leitura bem triste, obviamente). A obra nos faz refletir muito sobre nossa infância e o que estamos fazendo com a nossa vida adulta, como não estamos preparados para lidar com muitas coisas, inclusive perdas e busca por mudanças. Esse livro, inclusive, me lembrou bastante de "A hora da estrela", de Clarice Lispector (RESENHA AQUI). Então, se depois de ler ele você quiser se afundar em algo mais triste ainda, fica aqui a minha dica.

Seguem mais alguns trechos que destaquei desse livro incrível:

"a pena de crescer é querer entender tanto."

"as coisas preferem ser fixas, por isso quando as tiramos dos lugares em que estão elas se multiplicam, pra se vingar."

"todo mundo se sente confuso com essa história de parar de existir."

"ser adulto por vezes não deixa a beleza das coisas entrar tão facilmente, a gente começa a desconfiar."

"não ver alguém nunca mais por questões sentimentais doía menos do que não ver alguém nunca mais porque a pessoa deixou de existir."

E você, já leu essa obra? Já tinha ouvido falar? Vai para a sua lista de leituras? Comenta aí!

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