Resenha - Feliz Ano Velho

segunda-feira, setembro 20, 2021

  


Feliz Ano Velho, publicado pela primeira vez em 1982, é uma experiência biográfica do autor, Marcelo Rubens Paiva. Quando tinha vinte e poucos anos, ele sofreu um acidente em um rio que o deixou tetraplégico. 

Título: Feliz Ano Velho

Autor: Marcelo Rubens Paiva

Ano: 1991

Nº de páginas: 232

Editora: Brasiliense

Avaliação: ★★★★

Sinopse: A partir do acidente que sofreu ao dar um mergulho e bater a cabeça, Marcelo vê sua vida mudar radicalmente. Seus dias no hospital, as visitas que recebeu, as histórias que viveu são relatadas sob uma nova perspectiva: a de um jovem que sempre fez tudo o que podia e queria, e que, agora, sentado em uma cadeira de rodas, vê-se impotente diante dos acontecimentos, dependendo da ajuda de amigos e familiares para reaprender a viver.


Feliz Ano Velho estava nas minhas "leituras de interesse" desde o ensino médio. A obra conta a história real de Marcelo Rubens Paiva, um ator brasileiro que sofreu um acidente ao dar um mergulho em um rio que era mais raso do que ele esperava. No dia, ele estava bêbado e bateu a cabeça quando mergulhou. Foi levado para o hospital e, quando finalmente acordou, percebeu que não podia mover mais nada abaixo da cabeça. 

"agora, meu dia a dia ia ser: teto branco, dormir, teto branco, dormir, teto branco, dormir..."

O livro todo é narrado por Marcelo, então acompanhamos de perto tudo o que ele sentiu e pensou desde o acontecimento do acidente. A história se passa entre os anos 70 e 80. Ele era muito jovem e se arrependia amargamente do dia em que decidiu ir àquele lugar e fazer a "burrice" de pular no rio. Ainda assim, muitas coisas são narradas por ele com certo humor (algo que eu não seria capaz de ter, com certeza). Ele fala das enfermeiras, dos enfermeiros que dão banho nele e dos amigos que visitam.

Marcelo Rubens Paiva.

Ele narra o que está acontecendo no presente, mas também narra o que aconteceu no passado e, por conta disso, sabemos que Marcelo teve uma vida muito legal antes do fatídico ocorrido. Ele era "mulherengo", um universitário engajado de Engenharia Agrícola, sua família tinha dinheiro, seu pai desapareceu durante a ditadura, ele era bastante interessado em política e era afiliado ao PT, gostava de fumar, sair com os amigos e até teve uma banda e era compositor.

"Tinha que sofrer, tinha que estar só, tão só que até meu corpo me abandonara. Comigo só estavam um par de olhos, nariz, ouvido e boca. Feliz Ano Velho, adeus, Ano-Novo"

"O sadismo de alguns imbecis que apenas por vestirem fardas e usarem armas se acham no direito divino de tirar a vida de uma pessoa, pelo ideal egoísta de se manterem no poder."

"Quem diria, eu, que nunca trabalhara na vida, convencendo um deputado a ir pro Partido dos Trabalhadores."

Obviamente, o autor também narra os momentos de tristeza, arrependimento e o desejo impossível de ter a vida de antigamente de volta. 

"Foi o que eu prometi a mim mesmo. “Se eu não voltar a andar, darei um jeito qualquer pra me matar.”"

O autor reflete sobre a vida, a morte, a família e a "utilidade" que cada um tem nesse mundo:

"De que vale a eternidade? Um orgasmo dura poucos segundos. A vida dura poucos segundos. A história se fará com ou sem a sua presença. A morte é apenas um grande sonho sem despertador para interromper. Não sentirá dor, medo, solidão. Não sentirá nada, o que é ótimo. O sol continuará nascendo. A terra se fertilizará com o seu corpo. Suas fotografias amarelarão nos álbuns de família."

Lendo agora, três décadas depois da publicação, claro que me incomodei com vários pontos de vista de Marcelo naquela época. Ele faz comentários racistas, muito machistas e preconceituosos, mas era o contexto e é interessante ver como as pessoas tinham essa mentalidade atrasada, achando que estavam sabendo de tudo (inclusive, ele diz que no livro que não era machista). 

Enfim, gostei bastante da obra, mas dei quatro estrelas, porque em vários momentos se têm cenas um pouco "enchedoras de linguiça". Ainda assim, eu nunca tinha lido nada do gênero e foi bem interessante e me permitiu refletir muito sobre minha própria vida, ainda mais agora, em tempos de pandemia, nos quais a gente só sabe reclamar de não poder sair de casa, de não poder fazer isso ou aquilo... Mas pense: uma hora a pandemia vai acabar e a gente vai poder voltar a fazer tudo isso, diferente de Marcelo. Até achei o "personagem" bastante humorado e motivador. O livro nos faz dar valor ao que temos e TOMAR CUIDADO em momentos que estamos tentando tanto "curtir a vida".

"Tudo aquilo que eu tinha sonhado, meus planos pro futuro, desaguou numa simples queda mal calculada."

"Sempre tive como filosofia de vida que “do céu não cai nada além de chuva e avião sem gasolina”."

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