Resenha - Sono

quinta-feira, janeiro 21, 2021

  

Sono, publicado em 2015, é um conto do autor japonês Haruki Murakami, com ilustrações impactantes de Kat Menschik. 

Título: Sono
Autor: Haruki Murakami
Ano: 2015
Nº de páginas: 116
Editora: Alfaguara (Lido no Kindle)
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: "É o décimo sétimo dia que não consigo dormir." Ela era uma mulher com uma vida normal. Tinha um marido normal. Um filho normal. Ela até podia detectar algumas fissuras nessa vida aparentemente perfeita, mas nunca chegou a pensar seriamente nelas. Até o dia em que deixou de dormir. Então, o mundo se revelou. Um mundo duplo de sombras e silêncio; um mundo onde nada é o que parece. E onde ela não pode mais fechar os olhos. Sono é um conto de Murakami inédito no Brasil, com ilustrações de Kat Menschik.


Essa foi a leitura de quarta-feira do meu Projeto de Leitura - 7 Livros em 7 Dias e, apesar de parecer uma história simples de início, na verdade é um enredo contruído para te pegar pela mão e te fazer afundar junto com a personagem.

No começo do conto, somos apresentados à uma personagem mãe de família, de uma família comum e que leva uma vida banal. O filho vai à escola, o marido é dentista e a mãe cuida das coisas da casa, faz natação e vive quase a mesma coisa todos os dias. Certa noite, ela acorda de madrugada sem conseguir se mexer e vê a figura de um jardineiro a regando em seu quarto. Quando consegue recuperar os movimentos, não consegue mais voltar a dormir: por dezessete dias seguidos.

Ela aproveita esses momentos de insônia para ler Anna Karênina, de Tolstói. Na verdade, ela já havia lido na adolescência, mas acaba relendo e se viciando na obra. Tudo o que ela faz, já faz pensando em terminar logo para voltar a ler. 

"O hábito torna as tarefas simples de serem realizadas."

Por estar tanto tempo sem dormir, a realidade acaba se misturando com uma espécie de sonho na cabeça da personagem. Ela não sabe mais se está vivendo o presente ou se aquilo que vê são criações de um sonho. Por conta disso, não se sabe o que é real ou não e, além disso, as reflexões dela nesses devaneios são extremamente interessantes:

"Assustada pelo fato de eu pertencer a essa vida e ter sido tragada por ela. Assustada por constatar que minhas pegadas foram levadas pelo vento sem que eu tivesse tempo de me virar e constatar a existência delas. uando eu me sentia assim, eu ficava em frente ao espelho do banheiro contemplando meu rosto. Permanecia em silêncio durante cerca de quinze minutos mantendo a mente vazia, sem pensar em nada. Observava detidamente o meu rosto como se ele fosse apenas um objeto. Ao fazer isso, meu rosto gradativamente se dissociava de mim e passava a ser uma coisa com vida própria. Essa dissociação me ajudava a tomar consciência do meu presente. Conscientizar-me de um fato bem importante: a minha existência estava no aqui e no agora, sem nenhuma relação com as pegadas que deixei."

"Sendo assim, o que é a minha vida? Estou sendo consumida por uma tendência e, para me recuperar, preciso dormir. Minha vida seria tão somente uma mera repetição dessa tendência? Minha vida se resumiria em envelhecer enquanto eu dava voltas e mais voltas em torno de um mesmo lugar?"

"Viver e não conseguir se concentrar e o mesmo que estar de olhos abertos sem poder enxergar."

"Até então, eu achava que o sono era um tipo de morte. Ou seja, a morte seria uma extensão do sono. Em outras palavras, a morte era como dormir. Comparada ao sono, a morte era um sono bem mais profundo, sem consciência. Um descanso eterno, um blecaute. Era isso o que eu pensava. Mas pode ser que eu esteja errada, pensei. Será que a morte pode ser um tipo de situação totalmente diferente do sono? Será que a morte não seria uma escuridão profundamente consciente e infinita, como a que estou presenciando agora? A morte pode ser uma eterna vigília na escuridão."

Recomendo a leitura para quem está buscando um conto provocador e que pode render muitas discussões (para leituras em grupo deve ser sensacional!). Li em menos de duas horas e fui envolvida totalmente na leitura!

E você, já leu algo de algum escritor japonês? Recomenda algo? Leria esse conto? Comenta aí!

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