Resenha - Morte em Veneza

sábado, fevereiro 06, 2021

 

Morte em Veneza é uma novela de Thomas Mann, publicada pela primeira vez em 1912. Nessa obra de linguagem filosófica e citações inesquecíveis, Gustav von Aschenbach, um escritor de 40 anos, viaja para Veneza e se apaixona por um adolescente e a perfeição estética que encontra nele.

Título: Morte em Veneza
Autor: Thomas Mann
Ano: 2011
Nº de páginas: 94
Editora: Saraiva (Lido no Kindle)
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Morte em Veneza" aborda o fascínio mortal que a beleza física pode exercer. Gustav von Aschenbach é um escritor que, diante da pouca aceitação de suas últimas obras, decide viajar para Veneza para descansar. Já na cidade, depara-se com o belo inatingível, a perfeição estética do adolescente Tadzio, por quem se apaixona platonicamente. O velho escritor passa a vagar pelos decadentes, inspiradores e famosos canais venezianos, seus dias girando em torno da visão do rapaz, o que o impede de dar atenção aos boatos que circulam a respeito da epidemia de cólera que assola a cidade.


Essa foi a leitura de sexta-feira do meu Projeto de Leitura - 7 Livros em 7 Dias e foi a leitura mais impressionante da semana, sem dúvidas! Eu não sabia nada sobre a história e muito menos que teria o teor filosófico que tem. Há tempos eu não lia um livro assim, com uma linguagem um pouco mais complexa e adornada, mas que torna a obra linda de várias formas.

"Evoluir é cumprir um destino."

Nessa novela sobre morte e beleza, Gustav von Aschenbach, um velho escritor que desde sempre estudou sobre a beleza e os padrões da arte, vê suas obras sendo pouco reconhecidas e decide viajar para Veneza para descansar.

"Distanciando-se do banal tanto quanto do excêntrico, seu talento tinha o dom de granjear simultaneamente a confiança do grande público e a adesão elogiosa e exigente dos entendidos. Assim, já desde jovem, pressionado por todos os lados pelo dever de realização — e de uma realização extraordinária —, jamais conhecera a ociosidade, a negligência despreocupada da juventude."

Gustav faz questão de se hospedar de frente para o mar, pois para ele, a praia e o mar eram de extrema beleza e, consequentemente, de inspiração:

"Amava o mar por razões profundas: pela necessidade de repouso do artista exausto que, assediado pela multiformidade das aparências, anseia por abrigar-se no seio da simplicidade, da imensidão, e por um pendor proibido, diametralmente oposto à sua tarefa e por isso mesmo tentador, para o indiviso, o desmedido, o eterno, para o nada. Repousar na perfeição é o anseio nostálgico daquele que se esforça por alcançar a excelência; e o nada não é uma forma de perfeição?"

Certo dia, enquanto comtemplava o mar, avista Tadzio, um adolescente muito bonito pelo o qual Gustav se apaixona platonicamente. Depois de conhecer o garoto, ele fica obcecado e passa a segui-lo pelas ruelas de Veneza.

"O deus Amor, na verdade, age como os matemáticos que mostram às crianças imagens concretas das formas puras que estão além de seu alcance; assim também o deus, para nos tornar visível o imaterial, gosta de se utilizar da forma e da cor de um jovem corpo humano, que ele adorna com todo o reflexo da beleza, para fazer dele um instrumento da recordação, levando-nos assim, ao vê-lo, a nos inflamarmos em dor e esperança."

"Essa era Veneza, a bela aduladora e suspeita — essa cidade mescla de contos de fadas e armadilha para forasteiros, em cujo ar estagnado a arte outrora florescera esplendorosa, e que inspirava aos músicos melodias que embalam e arrulham lascivas."

Todos os acontecimentos da obra são costurados por fluxos de consciência apresentados pelo narrador onisciente, e esses fluxos são profundos e filosóficos sobre o que é a beleza, a origem do conceito de beleza na antiguidade e como a inspiração do belo é transmitida pela arte.

"Pois é preciso que saibas que nós, poetas, não podemos percorrer o caminho da beleza sem que Eros se interponha, arvorando-se em nosso guia; sim, ainda que sejamos, a nosso modo, heróis e guerreiros disciplinados, somos como mulheres, pois a paixão é nossa sublimação, e nosso anseio não pode deixar de ser amor — para nossa satisfação e para nossa vergonha. Vês agora que nós, poetas, não podemos ser nem sábios nem dignos? Que fatalmente incorremos em erro, que fatalmente permanecemos devassos e aventureiros do sentimento? A maestria de nosso estilo é mentira e estupidez; nossa fama e respeitabilidade, uma farsa; (...)"

Durante a história, Gustav descobre que Veneza foi acometida por uma epidemia vinda da India e por conta das mortes que ela causou, a novela se torna em uma mescla de morte, a busca pelo amor inalcançável e pela beleza clássica.

"A suprema ventura do escritor é o pensamento capaz de tornar-se por inteiro sentimento, o sentimento capaz de tornar-se por inteiro pensamento."

Recomendo demais essa leitura! Principalmente porque, após essa experiência incrível, descobri que o autor (que eu nunca tinha lido), venceu o Prêmio Nobel da Literatura e era ativista contra o racismo. Se você busca algo bonito e profundo, com uma lição indiscutível no final, Morte em Veneza é a dose mais rápida disso que você pode ter.

E você, já leu algo de Thomas Mann? Já ouviu falar do autor? Já ouviu falar de Morte em Veneza? Comenta aí!

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1 comentários

  1. Quando li pensei que Tadzio é uma metáfora que me leva a pensar que a busca pela beleza é que faz adoecer o velho Gustav.

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