Resenha - Árvore e Folha

segunda-feira, abril 22, 2019


Árvore e Folha (Tree and Leaf) é um ensaio de J.R.R. Tolkien sobre contos de fadas, publicado pela primeira vez em 1964. Além do ensaio, nessa edição da Martins Fontes, também há um pequeno conto entitulado "Folha, de Migalha", que carrega uma lição de vida simples e genial. 


Título: Árvore e Folha
Autor: J.R.R. Tolkien
Ano: 2017
Nº de páginas: 120
Editora: Martins Fontes
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: Este volume inclui o ensaio Sobre Contos de Fadas e o conto Folha, de Migalha (Leaf by Niggle). Em seu ensaio Sobre contos de fadas, Tolkien discute a natureza dos contos de fadas e da fantasia e resgata o gênero que alguns pretenderam relegar à literatura infantil. Isso é ilustrado de maneira hábil e refinada por Folha, de Migalha, conto fascinante que narra a história do artista, Migalha (Niggle), que 'precisa fazer uma longa viagem', e é visto como uma alegoria à vida de Tolkien.

Quando comprei Árvore e Folha, confesso que eu esperava um livrinho das maravilhosas histórias infantis de Tolkien (como Mestre Gil de Ham e Roverandom), mas Árvore e Folha é totalmente o contrário! 

Essa obra é dividida em duas partes: a primeira, e maior, é uma análise de Tolkien sobre o gênero Contos de Fadas. A segunda parte, é uma história curtíssima, entitulada "Folha, de Migalha". Falarei de cada parte separadamente. 

Na primeira, Sobre contos de fadas, podemos ler uma análise técnica (um ensaio), e até filosófica, de Tolkien, acerca dos contos de fadas. Eles são realmente para crianças? Adultos podem ler e gostar de contos de fadas? O que pode ser considerado conto de fada e o que é apenas Fábula? Como esses contos surgiram, quais tipos de universos esses contos abrangem e qual a função deles na literatura que molda sociedades? Todas essas perguntas são respondidas genialmente pelo nosso querido Senhor da Fantasia.


Obviamente, não pude deixar de selecionar algumas citações para vocês (algumas eram longas demais para transcrever, sorry, haha):

"Por ora só direi isto: um "conto de fadas" é aquele que toca ou usa o Reino Encantado, qualquer que seja seu propósito principal, sátira, aventura, moralidade, fantasia." (p. 10)

"A magia do Reino encantado não é um fim em si, sua virtude reside nas suas operações, entre elas a satistação de certos desejos humanos primordiais. Um desses desejos (como veremos) é entrar em comunhão com outros seres vivos. Assim, uma história não poderá tratar da satisfação desses desejos, com ou sem operação de máquina ou magia, e na medida em que tiver êxito aproximar-se-á da qualidade e do sabor do conto de fadas." (p. 13)

"Na verdade, a associação entre crianças e contos de fadas é um acidente de nossa história doméstica. No mundo letrado moderno os contos de fadas foram relegados ao "quarto das crianças", assim como a mobilha velha ou fora de moda é relegada à sala de recreação, primordialmente porque os adultos não a querem, e não lhes importa que se faça mal uso dela. (...) As criamças como classe - classe que não são, exceto pela falta de experiência que lhes é comum - não gostam mais dos contos de fadas, nem os compreendem melhor, do que os adultos, e não os apreciam mais que muitas outras coisas." (p. 33)

Se você busca fazer uma pesquisa acadêmica em relação ao gênero fantástico ou aos contos de fada, Árvore e Folha pode ser uma bibliografia interessantíssima para se utilizar (espero conseguir empregá-lo dessa forma algum dia). 

Em "Folha, de Migalha", temos uma história sobre Migalha, um pintor de pouco sucesso que precisava viajar para longe, mas não parava de pintar. Por ser bastante generoso, Migalha prestava vários serviços para o seu vizinho, Sr. Paróquia, que mancava e não podia cuidar do quintal. Certo dia, Migalha decidiu pintar uma árvore, mas Sr. Paróquia só via rabiscos, linhas disformes e cores verdes feias na tela de Migalha, julgando-o precipadamente, com base em sua primeira impressão. Ao final, a pequena história nos dá uma importante lição de vida.

O conteúdo do livro me surpreendeu muito, esse foi o primeiro livro de Tolkien com um viés mais técnico e analítico que eu li, e eu simplesmente amei. Esse homem é incrível e quanto mais eu leio os textos dele, mais eu compreendo o porquê de eu gostar tanto. 

E você, já leu esse livro? Ouviu falar? Acha que contos de fadas são só para crianças? Comenta aí!

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