Desafio de 15 dias de escrita #10

quarta-feira, junho 10, 2020


Desafio 10: Reescreva um conto de fadas

Sara Muniz:

Era uma vez uma garotinha que vivia em uma cabana na floresta com sua mãe. Certo dia, a menina estava dormindo e foi acordada por batidas violentas na porta do seu quarto.

— Levanta menina! Está na hora do almoço. Você vai dormir o dia inteiro? Eu preciso da sua ajuda!

— Mas que saco! — A menina berrou em resposta. Depois de 20 minutos, ela finalmente conseguiu sair da cama. Colocou os sapatos e vestia sua capa vermelha.

As duas almoçaram juntas e, quando terminou, sua mãe pegou uma cesta e colocou em cima da mesa.

— O que é isso? — A garota perguntou.

— São suprimentos para a sua avó. — Sua mãe respondeu.

— Caramba, isso deve pesar uns 20 quilos.

— Talvez, portanto já vá se preparando, porque você terá de levar para ela.

— O quê? Mãe! — A menina gritou.

— Não quero saber! Sua avó está doente e alguém precisa levar comida para ela.

— Até agora eu não entendi porque ela já não mora com a gente, toda semana é isso... O que houve com o entregador?

— Está ocupado... Essa onda de coronavírus dobrou o número das entregas dele...

— Fica do outro lado da floresta, eu não quero levar isso. É muito pesado e está um frio desgraçado lá fora!

— Você vai levar, sim, e não esqueça sua máscara.

— Droga! Eu te odeio!

Quando a menina estava saindo, sua mãe foi até a porta e disse:

— Se eu não tivesse todas essas encomendas de pães, eu levaria. Quer ficar fazendo pão enquanto eu levo lá?

— Óbvio que não. Eu tenho cara de quem tem força para sovar tanto pão? Prefiro carregar esses 20kg. — A garota respondeu.

Sua mãe riu e puxou para a cabeça da menina o capuz vermelho da capa dela.

— Está frio, é melhor vestir o capuz. Outra coisa: não esqueça de ir pelo lado tranquilo da floresta. Não chegue perto de ninguém, pois não queremos pegar essa doença aí.

— Tá... — A menina revirou os olhos e foi.

Durante a caminhada na floresta, a garota tentava carregar a cesta e desviar dos galhos. Naquele caminho não havia ninguém, até que ela avistou um lobo vindo do lado contrário. Ele vestia roupas de humanos e, o mais importante: estava sem máscara. Ela tentou passar por ele o mais rápido possível, mas ele puxou assunto:

— Ei, garota, o que tem aí nessa cesta?

— Sai de perto de mim! — Ela gritou.

— Eu não sou bandido, moça. — Ele respondeu.

— Eu sei, mas você está sem máscara e vai me passar coronavírus.

— O quê? Não... Isso não... Eu só tô com fome.

— Eu não posso te dar nada dessa cesta. — Ela disse.

— Por quê?

— Porque minha mão está contaminada desde que eu saí de casa e eu não tenho álcool em gel, ou seja, não posso pegar nessa comida e te dar, pois estará contaminada pelos germes da minha mão! 

— Meu Deus... Isso é loucura. — Ele disse.

— Não é não. Agora me deixe seguir meu caminho.

A menina foi embora e o lobo continuou com fome, mas sem doença alguma.

Fim.

Luis Kulik:

Nas versões “snow” e “white”

Ela estava andando no centro da cidade, em um calçadão, quando viu uma senhora corcunda passar por ela com vários Iphones na mão gritando que estava vendendo eles pela metade do preço. Ela comprou sem pensar duas vezes, abandonado o celular de botões em uma gaveta.
As primeiras semanas foram difíceis para se acostumar. Pediu dicas de amigos, procurou tutoriais sobre novas funções, cadastrou cartões de crédito e de débito em aplicativos dos bancos. Baixou seus álbuns preferidos para ouvir no caminho do trabalho, foi a novos lugares com o GPS guiando, e conheceu pessoas pelos aplicativos de encontros.   
Criou perfis nas redes sociais que tanto ouvia falar. Ela começou postando algumas fotos recentes. Percebendo que poucos seguiam um padrão começou a experimentar. Ângulos tortos, filtro sépia, biquinho. Então se cansou da TV a cabo e os filmes repetidos. Procurou por entretenimento barato e descobriu os joguinhos. Angry birds, Candy Crush, Clash Royale. O que era só um prazer em pouco tempo se tornou um vicio. Aos poucos foi deixando a limpeza da casa de lado. De hora em hora passou para trinta, e então dez minutos. Não importava onde estava, só queria comprar todos os personagens, derrotar os chefões, desbloquear a próxima fase. Começou a por dinheiro e comprar mensalmente pacotes para estar sempre nos top 5 da semana. No trabalho passou a fingir que ia ao banheiro para jogar sem os olhos dos outros sobre ela. Um dia ficou uma hora, no outro duas, e depois de uma semana com três horas de banheiro a tarde sua chefe a chamou para conversar a sós. A demissão não foi algo muito inesperado para os colegas. 
Ela ficou em casa nas redes sociais, traçando planos de como ganhar dinheiro online. Tentou virar Youtuber, mas os vídeos nunca tiveram mais de dez visualizações de amigos. Ela tentou o Instagram, onde já tinha mil seguidores, só que nenhuma marca sequer respondeu a algum dos e-mails de proposta dela. O Tik tok se provou só outra furada. Ela sempre voltava para os joguinhos para fugir da realidade, e sem procurar outra coisa no mercado nenhuma oportunidade caiu do céu. Com três meses de aluguel a imobiliária deu uma semana para o despejo. 
Sem saber o que fazer ela perguntou a uma amiga se ela conhecia alguém disposto a oferecer ajuda. A amiga disse que conhecia sete amigos com nanismo em uma casa adaptada. Eles dariam para ela comida, desde que deixasse a casa arrumada. Ela aceitou como um quebra galho. Todos eram muito queridos, com personalidades simples e caricatas. Eles eram muito queridos, nunca brigavam, e trabalhavam na mesma empresa há anos. Ofereceram a oportunidade para uma entrevista a ela, mas outra pessoa foi chamada. Nem por isso ela se deixou abalar, foi alguns dias ao centro entregando currículo a todos os lugares. 
Com a crise e o desemprego em alta nenhum esforço parecia dar frutos. Ninguém retornava por ligação, e-mail ou LinkedIn. Ela voltou a investir em vídeos. Tentou cozinhar, tutorial de maquiagem e vlogs de desafios. Foi em uma semana que um de seus vídeos de tutorial de maquiagem teve um pico de visualizações do dia para a noite. 
Ela foi ler os comentários na esperança de que aquele era seu momento. Ainda esperançosa procurou por algo positivo, mas todos somente eram criticas, xingamentos e ameaças. - “Desempregada e maquiada, só falta meu Príncipe para me bancar”. - Ela havia dito com tom irônico. Alguns homens falavam de como ela estava certa, e mandavam cantadas sem graça. Algumas mulheres compartilhavam seu vídeo nas redes repetindo sua frase entre aspas seguidos de textões com reclamações. O caos estava instalado, e por mais que respondesse os comentários dizendo que tinham entendido errado, as pessoas respondiam, em resumo, que “o que estava falado era aquilo e pronto”.
Ela tentou pedir desculpas em um tweet, mas a sociedade virtual já parecia ter dado seu veredito e “cancelado” ela. Ela começou a chorar. Deitou em seu quartinho e chorou a noite toda, até acordar na manhã seguinte se sentindo muito mal. Os anões perceberam que não estava bem, e tentaram de tudo para tirá-la de casa, irem a parques, cinema, e teatro. Ela sentia que nada na sua vida não tinha como piorar. 
Os três dias seguintes foram menções no Twiiter, Facebook, e Instagram. Ela via as notificações, mas não tinha coragem de abri-las. Sabia que eram péssimas. Em uma decisão precipitada mergulhou uma maçã em água sanitária, enfiando algumas pílulas nela e em algumas mordidas sentiu-se tonta, desmaiando. Voltou a acordar em um hospital. Os Anões faziam turnos, e sua amiga estava com eles. Tinham feito uma lavagem estomacal nela, e depois daquilo ficou em observação. Os Anões e sua amiga ajudaram a pagar um psicólogo e psiquiatra. Algumas pessoas ligaram para saber como ela estava e como foi o desenrolar da situação. Ela teve um período de abstinência e reabilitação. 
Demorou em torno de quatro meses para que devolvessem o Iphone a ela, e no meio tempo voltou a usar o celular de botões de novo. As notificações dos aplicativos sempre davam “+100”. Ela não tinha nenhuma vontade de checar. 
Em uma decisão excluiu todas as redes sociais. Pela emancipação simbólica ela jogou o celular em uma fogueira no quintal. Se sentindo livre de tudo aquilo tentou pedir o emprego de volta, jurando por tudo que estava desintoxicada. Ela foi aceita novamente no ato. Ela morou com os Anões por um tempo, até conseguir melhores condições com uma promoção e comprando a casa ao lado. Não encontrou um Príncipe, nem uma Princesa, nem qualquer coisa do tipo. 
Encontrou a si mesma na sua melhor versão, e esse é o melhor final felzi que alguém pode ter hoje em dia. 





Participe do desafio você também!

Desafios:

1. Apenas diálogos

2. Escreva uma carta

3. Escreva algo referente a uma citação que goste

4. Seja uma pessoa totalmente diferente de você

5. Pegue o livro mais próximo de você, abra na página 27, leia o primeiro parágrafo e escreva algo 
baseado nisso

6. Escreva sobre uma experiência com alguma comida que goste ou odeie

7. Baseie-se em uma obra de arte. Use a história que ela apresenta como referência

8. Um lugar que você gostaria de visitar

9. Escreva um poema.

10. Reescreva um conto de fadas

11. Escreva uma crônica

12. Escreva um mini conto com temática futurística

13. Escreva um poema sobre algo histórico

14. Escreva uma história baseada em algum sonho que teve

15. Escreva sobre o significado que é escrever para você

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