Desafio de 15 dias de escrita #7

domingo, junho 07, 2020


Desafio 7 - Baseie-se em uma obra de arte. Use a história que ela apresenta como referência.
Sara Muniz:

Caminhante sobre o mar de névoa, de Caspar David Friedrich (1817)

Depois de um longo dia de leituras, decidi sair para apreciar a natureza. Fazia frio, então decidi colocar meu sobretudo verde e usar minha bengala para me ajudar durante a caminhada. Caminhei floresta adentro, a mesma floresta que cercava a minha mansão e o povoado de Dresden. Não demorou muito até que começasse a escurecer. Aproximei-me das montanhas e comecei a subir como um alpinista. O frio ia ficando cada vez pior e o sol ia cedendo espaço para a lua. 

Quando cheguei ao topo da montanha, ainda havia um pouco de luz do dia, mas eu mal pude ver a paisagem por conta da névoa que se formara nas altitudes. Ah! Que grande decepção. Normalmente nos esforçamos tanto para, no final, ver algo bonito e que vale a pena ser comtemplado, mas naquele dia meus esforços foram feitos e eu não recebi o belo prêmio no final: recebi uma paisagem escondida pelo mar branco-acinzentado das nuvens. Bom, nem sempre nossas espectativas se tornam realidade, não é mesmo? Ainda assim, senti-me extremamente romântico ao presenciar aquela cena que, naquele dia, decidiu não se mostrar por inteira para mim... Nesse caso, voltarei amanhã.



Luis Kulik:

Menina na Janela (Salvador Dalí)

Ele mandou uma carta, e ela deve ter recebido dois dias depois. Isso já foi há uma semana. “Estou chegando...” - Ele avisou. Ela, por sua vez, já tinha varrido as casa dez vezes, ligado o rádio ansiosa demais para conseguir prestar atenção, pegado um livro, mas como o rádio, dez minutos passavam e ela se desconectava de tudo, só conseguindo pensar no estado que ele poderia se encontrar. Será que tinha naufragado em ilha desconhecida? Ou alguém da tripulação ter pego alguma doença e deixado o barco de quarentena em algum porto? Ou melhor, estaria a caminho de casa vindo do porto do outro lado da cidade?
Estaria com as botas enlameadas de vir andando da estrada. Ela queria poder dizer - “nananinanão, botas lá fora. E por favor, direto pro banho, você cheira a sardinhas”! - Ele também poderia ter pedido um bote emprestado e estaria a caminho ao píer da casa que tinha sido construído no lugar da garagem. 
“O mar é traiçoeiro”, e ela principalmente não conseguia lembrar de quantas pessoas já haviam dito isso a ela. A vizinha de sua mãe, que era uma poetisa de sucesso na Europa, tinha dito que “as ondas são como o balançar de um relógio na hipnose”. Ela tinha ouvido isso quando criança, e lembrou por motivos que não compreendia. Talvez olhar todo aquele tempo da janela tenha finalmente dado a ela tempo o suficiente para pensar em algo fora da sua realidade mais recente. 
Ela lembrou que seu pai tinha sido um marujo, como o pai dele. A história mais assustadora que tinha ouvido dele era uma enorme montanha de gelo, no caminho para a América, onde seu pai contou ter visto no pico demônios alados de olhos rubros e vingativos. Mas ela não acreditava tanto naquilo, pois seu pai adorava pregar peças. Porém, além de ter dito algo de natureza semelhante, seu marido já tinha contado ter avistado o próprio pai em um bote no meio de milhões deles. No caso cada um segurava uma vela, e enquanto mantivessem a vela acesa tudo parecia ficar bem. Mas o pai dele, como alguns outros, deixaram a vela se apagar. Quase que imediatamente, segundo ele, o pai foi afundado junto do barco destruído em pedaços por tentáculos de uma abstração incomparável com qualquer coisa que ele conhecia. 
Você deve se perguntar porque raios alguém se lançaria a um perigo desses sabendo que não poderia voltar.
Nessa cidade portuária o emprego é o comércio ou o mar, e o marido dela não tem muita lábia. Ele fala tão pouco que ela esquecia o do som da sua voz, até quando ele está em casa. Olhando para o mar e sentindo as águas das ondas alcançando seu braço depois de quebrarem na parede. Era quase terapêutico quando não estava tão agoniada. Mas mesmo que ficasse molhada no braço não conseguia parar de olhar para o horizonte com esperança.
 “Estou chegando...” não parecia significar a mesma coisa quando ele demorava tanto assim. Até que ela avistou um pequeno ponto no centro do horizonte, crescendo e balançando a medida que o vento o carregava. Dez minutos e o barco já estava quase nítido, e em meia hora já ancorou o mais próximo que podia da costa. Os tripulantes pularam nos botes, acenando para os conhecidos, alguns com lagrimas, outros com sorrisos enormes. Ela olhou cada um deles, percebendo que nenhum olhava para onde ela estava. Tremiam muito por baixo dos casacos e toucas grossas.
Ela se cansou, fechando a janela e quase chorando. Como sentia falta de seu abraço, seus beijos, sua presença. Ela sentou se abraçando na poltrona verde musgo que ele havia trazido de uma viagem. Na mesinha de cabeceira torta, que ela mesma tinha feito, observou a carta embaixo do livro de capa de couro. Por curiosidade pegou o papel grosso com a tinta preta, trazendo para a posição mais favorável a luz e voltando a lê-la. Não sabia dizer se tinha ficado ansiosa e só lido as duas primeiras palavras, ou lido tudo de uma vez sem prestar atenção em todo o resto. Em voz alta:
 - “Estou chegando em Dublin. Espero que esteja bem. Comprei alguns aperitivos e doces para provarmos na cama no meio de uma de nossas leituras noturnas. Te amo muito”.
O cartão postal era da Ilha de Man. Ela riu, se sentindo ridícula. Voltou para a janela e ficou observando de longe os tripulantes abraçando suas famílias e amigos. Todos levavam suas malas com as colunas tortas. Estavam em casa, como ele estaria depois de uma semana, ou mais. 
Ela suspirou e voltou a aproveitar a vista do mar até o anoitecer.




Participe do desafio você também!

Desafios:

1. Apenas diálogos

2. Escreva uma carta

3. Escreva algo referente a uma citação que goste

4. Seja uma pessoa totalmente diferente de você

5. Pegue o livro mais próximo de você, abra na página 27, leia o primeiro parágrafo e escreva algo 
baseado nisso

6. Escreva sobre uma experiência com alguma comida que goste ou odeie

7. Baseie-se em uma obra de arte. Use a história que ela apresenta como referência

8. Um lugar que você gostaria de visitar

9. Escreva um poema.

10. Reescreva um conto de fadas

11. Escreva uma crônica

12. Escreva um mini conto com temática futurística

13. Escreva um poema sobre algo histórico

14. Escreva uma história baseada em algum sonho que teve

15. Escreva sobre o significado que é escrever para você

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