Resenha - O Dia do Curinga

quinta-feira, março 11, 2021

 

O Dia do Curinga, foi publicado pela primeira vez em 1990, e foi escrito pelo autor norueguês, Jostein Gaarder. A obra é um romance filosófico e fantástico, algo bastante característico do estilo de Gaarder, mas que, mais uma vez, me deixou encantada.

Título: O Dia do Curinga
Autor: Jostein Gaarder
Ano: 1998
Nº de páginas: 382
Editora: Companhia das Letras
Avaliação: ★★★★★
Sinopse: "Você já pensou que num baralho existem muitas cartas de copas e de ouros, outras tantas de espadas e de paus, mas que existe apenas um curinga?", pergunta à sua mãe certa vez a jovem protagonista de O mundo de Sofia. Esse é o ponto de partida deste outro livro de Jostein Gaarder, a história de um garoto chamado Hans-Thomas e seu pai, que cruzam a Europa, da Noruega à Grécia, à procura da mulher que os deixou oito anos antes. No meio da viagem, um livro misterioso desencadeia uma narrativa paralela, em que mitos gregos, maldições de família, náufragos e cartas de baralho que ganham vida transformam a viagem de Hans-Thomas numa autêntica iniciação à busca do conhecimento - ou à filosofia. O dia do curinga é a história de muitas viagens fantásticas que se entrelaçam numa viagem única e ainda mais fantástica - e que só pode ser feita por um grande aventureiro: o leitor.

Hans-Thomas e seu pai, ambos noruegueses, foram abandonados pela mãe de Hans. Oito anos após o abandono, os dois decidem ir atrás dela e, dessa forma, viajam de carro da Noruega até a Grécia. Hans-Thomas é apenas um garoto que lida com a fuga da mãe e com o pai que adora um drink, fumar e filosofar. No meio da viagem, os dois param e uma pequena cidade chamada Dorf. Hans-Thomas vai dar uma volta pelo local e acaba entrando em uma padaria e ganhando pãezinhos de uvas passas de graça. Ele acha aquilo sensacional, mas quando chega em casa e vai morder o maior pãozinho, se depara com um livro minúsculo, de 100 páginas e com letrinhas ainda mais minúsculas. Por sorte (e por mais estranho que pudesse parecer), ele tinha ganhado uma lupa de um anão que eles conheceram em um ponto de gasolina durante o trajeto. 

"- É nessa hora que Deus ri de nós?
- Exatamente. Se nós fôssemos capazes de criar um ser artificial, Hans-Thomas, nós também iríamos rachar o bico de rir se esse ser artificial saísse por aí falando um monte de bobagens sobre os índices da bolsa de valores ou sobre corridas de cavalos, por exemplo, sem se perguntar a coisa mais simples e mais importante de todas: 'De onde é que eu vim?'".

Hans-Thomas começa a ler a história do livrinho e a desvendar uma história muito maior, relacionada a alguém que ele conhece. As simbologias nessa história se dão por meio das cartas de baralho, dando enfoque no Curinga, a carta mais especial e que menos faz falta no jogo de baralho.

"Um curinga é um pequeno bobo da corte; uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem de copas e nem de espadas. Não é oito, nem nove, nem rei e nem valete. É um caso à parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo monte de cartas, mas aquele não é seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que ninguém sinta falta dele."

Como tudo na história se conecta perfeitamente (amo Gaarder por causa disso, hehe), o pai de Hans-Thomas sempre gostou de colecionar as cartas de Curingas de qualquer baralho. Na história do livrinho, o Curinga aparece como um personagem festeiro, sensato, curioso e que se sentia não-pertencente, já que, tecnicamente, o baralho não precisa dele.

Como o pai de Hans-Thomas adora filosofar, os dois têm conversas pra lá de incríveis e poéticas sobre a existência e o sentido da mesma. Obviamente, tudo isso faz parte das técnicas de Gaarder (que eu amo DEMAIS) para inserir questionamentos filosoficos em um livro predominantemente de literatura infantil, de modo simplificado e acessível para todas as idades.

"- Toda manhã acordo com um estalo. É como se cada manhã alguma coisa me lembrasse de que estou vivo, de que sou um ser vivo vivendo uma aventura fantástica. Pois, afinal de contas, quem somos nós, Hans-Thomas? Será que você pode me responder? Somos feitos de uma pequena porção de poeira estelar. Mas o que significa isso? De onde vem esse mundo, afinal?"

De fato, O Dia do Curinga é sobre duas viagens realizadas por Has-Thomas, com duas buscas diferentes: sua mãe e a pessoa misteriosa por trás do livrinho. Dessa forma, o mundo real fictício e o mundo literário se transformam em uma grande metalinguagem dentro do livro de Gaarder. 

"- Não há um lugar onde possamos nos enconder para escapar do tempo - continuou meu pai. - Podemos escapar de reis e imperadores, e talvez até de Deus. Mas não podemos escapar do tempo. O tempo nos enxerga em toda a parte, pois tudo à nossa volta está mergulhado nesse elemento infatigável."

"- A questão é que eu não apenas vejo todas essas coisas - prosseguiu o Curinga. - Eu também as sinto. Sinto que sou... bem, que sou uma criatura vi... uma criatura viva... Uma criatura muito estranha, com pele, cabelos e tudo... Uma marionete viva... Robusto como um boneco de borracha. 'Mas de onde veio este homem de borracha?', eu me pergunto."

Como sempre, recomendo sem sombra de dúvidas a obra (assim como qualquer livro do Gaarder) e eu gostaria de ressaltar que os livros do autor sempre me faz questionar a vida assim como os personagens. Sempre que há discussões existenciais nas obras dele, meu coração aperta junto e eu me identifico com todos os questionamentos. A parte mais legal dos textos dele, é que, apesar de ele jogar essas perguntas sem respostas e desconfortáveis contra a gente, ele também sempre dá um jeito de mostrar como a vida e o tempo são valiosos, embora não saibamos o que acontecerá depois de "sermos varridos" do mundo.

Eu já li vários livros do autor, então se quiser dar uma olhada nas outras resenhas, aqui estão:


E você, já leu Jostein Gaarder? Gosta de alguma obra dele? Comenta aí!

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